A imagem de Iemanjá que protege a praia da Ferradura, em Búzios, há mais de 20 anos, foi destruída na madrugada desta sexta (11/03). O arquiteto Helio Pellegrino, que tem casa ali há 46 anos, está indignado. “Estão acabando com tudo, como o ser humano faz com qualquer coisa linda. Estamos realmente fadados ao insucesso. Aqui, em Búzios, estou impressionado, porque a gente espera uma evolução dos costumes, dos espíritos, mas aqui tudo involui, as praias estão todas poluídas, vem um cara e quebra tudo”, diz ele, que assina mais de 300 trabalhos na cidade.
As circunstâncias ainda são desconhecidas; ninguém sabe se foi um caso de intolerância religiosa ou vandalismo gratuito. “Sinceramente, acredito que o ódio está norteando todas as pessoas. E essa onda bolsonarista é o que tem de mais obtuso do que já passou pela República brasileira em todos os tempos. Para mim, Deus é a natureza, não existe religião, mas as pessoas são intolerantes. Me impressiona que o pessoal está muito odioso, sem noção de nada. Se não fosse a ressalva da natureza, Búzios já estaria varrida do mapa”, finaliza.
Com a pandemia, Pellegrino, que morava no Rio e em Búzios, resolveu se mudar de vez para o balneário. Com isso, colocou sua casa na Gávea à venda, por R$ 16 milhões (são 1.700 metros quadrados, com ateliê, marcenaria, serralheria e uma sala de música). “Se eu tenho que ir ao Rio por algum motivo, saio de lá correndo, porque aquilo é o purgatório”, diz.
Até a próxima semana, a casa está alugada para o “Tempero de Família”, programa de Rodrigo Hilbert no GNT. “Não quero saber mais de cidade grande no Brasil em hipótese alguma. O ser humano não soube ocupar os espaços conjuntamente; é só filho da puta querendo lucrar. Cidade é um sistema de consumo desenfreado”, desabafa.
Helio ainda não recebeu propostas pela casa, mas gostaria muito que virasse algo cultural. “Minha vontade é que alguém crie um centro de arte ali”.