Aqui, algumas frases que destacamos do discurso de quase uma hora da posse de Fernanda Montenegro, primeira mulher a estar na Cadeira 17 (sucessora do diplomata Affonso Arinos de Mello Franco), em cerimônia para mais ou menos 500 pessoas, na sexta (25/03), no Petit Trianon, no Centro, em noite emocionada, oferecendo grandes momentos aos imortais, numa noite simbólica. Caso de amor verdadeiro à arte, com corações palpitantes na plateia.
Montenegro foi recebida pela secretária-geral da ABL, Nélida Piñon, e levada ao palco por Cacá Diegues, Rosiska Darcy de Oliveira e José Sarney. Relembrou, em todo momento, que a eleição era a chegada das artes cênicas à casa de Machado de Assis, e que o teatro está no Brasil há mais de 300 anos, citando os vários dramaturgos que interpretou, “de Oswald de Andrade a Millôr Fernandes, de Ariano Suassuna a Nelson Rodrigues”. Depois do discurso, a filha, Fernanda Torres, leu o discurso escrito por Piñon.
Sobre a profissão: “Sou uma incansável autodidata, cuja origem intelectual, emocional sempre me chegou e ainda me conduz através da vivência inarredável de um ofício: atriz. Sou atriz. Veio dessa mítica, mística arte arcaica, eterna, que é o teatro. Sou a primeira representante da cena brasileira, do palco brasileiro a ser recebida nessa casa”.
Mais sobre a profissão: “Acho que há uma carência cênica no país inteiro. A expressão teatral não morre. Superamos guerras, pandemias. O teatro não morre.”
Sobre Nelson Rodrigues (1912-190): “Devo uma presença referencial a Nelson Rodrigues. Foram três peças, meu primeiro trabalho no cinema, além de três novelas de TV. Nelson é o prolista visceral do comportamento do homem brasileiro. Fecho a saudação com a frase de Nelson: ‘Aprendi a ser o máximo possível de mim mesmo’. E é como a gente aprende a viver, no fundo”.
Sobre Fernando Torres (1927-200), seu marido: “Na minha eterna e imensa saudade, o homem de teatro, Fernando Torres, de uma vocação sem igual e minha incansável e louca retaguarda. A ele eu devo 60 anos de uma busca de realização artística pelos muitos e muitos palcos deste país. Como o máximo encontro do nosso existir, devo a ele, a participação de uma tribo de oficiantes vocacionados, os nossos filhos e netos. Somos uma raça indestrutível”.
Sobre Gilberto Gil, que vai tomar posse no dia 8 de abril: “A razão desse comando tão fraterno feito a mim se deu porque era um ativista cultural real, um artista, um irmão da mesma fé. Um potencial cantor, ator. Um feliz e saudável boêmio, companheiro de muitas figuras de nossa dita cultura popular. Cultura popular da qual eu faço parte, com nosso gênio absoluto, Gilberto Gil”.
Sobre a acadêmica Nélida Piñon: “De forma especial, quero reverenciar Nélida. Personalidade artística, cultural e humanista. Não só desta casa, mas do nosso país. Tive na sua pessoa uma generosa conselheira, uma condutora”.
Sobre o governo: “Mesmo contra essa trágica, brutal posição governamental contra a cultura das artes que no momento estávamos vivendo no Brasil, resistimos. Somos eternos”.
Tudo já foi publicado, incluindo o vídeo de quase duas horas no YouTube da ABL.