Com o aumento da miséria na pandemia, as ruas do Rio estão doloridas, tanto para quem nelas vivem quanto para quem as vê. Muito se fala que os mendigos fogem dos abrigos, praticamente preferindo uma boa morte a se instalar em um deles. Por quê? Essa conta sempre vai para os moradores de rua como se fossem insubordinados e estúpidos, preferindo a degradação das vias públicas a se instalarem onde seriam muito bem tratados. Cena — rara de se ver — chamou atenção, nesta segunda (31/01), na Rua Marquês de São Vicente, na Gávea: os agentes da Prefeitura tentando convencer o famoso mendigo Cristiano, conhecido no bairro, a acompanhá-los. Perguntado o que ofereceriam, um deles respondeu todas as possíveis vantagens, de alimentação a remédios. Ao que o destemido Cristiano reagiu: “Isso é maquiagem, é teoria.”
Dados do Censo de População em Situação de Rua de 2020, da Prefeitura com o Instituto Pereira Passos, o principal problema enfrentado por 31,5% dos moradores de rua nos abrigos do município é a dificuldade de relacionamento, ameaças ou violência por parte de outros abrigados ou funcionários; a seguir, a falta de liberdade, que inclui a ausência de flexibilidade de horários e regras (16,7%), e a falta de infraestrutura nos edifícios (11,1%). Os dados também diziam que mais da metade das pessoas que vivem nas ruas já frequentou abrigos ou unidades de acolhimento da Prefeitura, mas sempre voltam para as ruas.