Desde o início, Ivo Pitanguy (1923-2016) sempre foi personagem presente na coluna, para a minha, a sua, a nossa sorte, com toda a sua grandiosidade! Segue a entrevista à coluna, em 2011:
Chamar Ivo Pitanguy de “deus da cirurgia” já ficou até cansativo; ninguém aguenta mais. Dizer que Ivo Pitanguy é uma grande personalidade mundial, todo o mundo já sabe. Falar que Ivo Pitanguy já publicou mais de 800 trabalhos não é novidade.
Chamado por muitos de gênio, Pitanguy foi quem elevou a cirurgia estética ao mesmo patamar da reparadora — fez a união dessas duas técnicas, mostrando ao mundo que a cirurgia plástica é, quase sempre, uma reparação, pelo menos para o interessado. Isso mudou tudo! Foi Pitanguy quem descomplicou as técnicas dessa especialidade médica. Pode perguntar a qualquer de seus ex-alunos: todos concordam com isso. E olha que são muitos no mundo inteiro: passam de 500, nos mais variados países.
Cultíssimo, poliglota, grande anfitrião, grande pai, grande pescador, são inúmeras suas qualidades; mas tem ainda o lado humano, o lado solidário, o lado generoso: Pitanguy trabalha às quartas-feiras na Santa Casa de Misericórdia, no Rio, sem ganhar um tostão sequer, atendendo aqueles que jamais teriam dinheiro para bancar uma cirurgia com ele ou com qualquer outro médico. A seu favor, o cirurgião tem ainda o fato de ter sido a mais globalizada das pessoas, muito antes de a Internet existir: sempre está atento a tudo, sempre sabe de tudo, sempre fala de tudo. É ainda um grande divulgador do Brasil no exterior, e adora viajar tanto quanto trabalhar.
Perguntado se fosse preciso, faria alguma coisa com uma ou mais das vítimas da tragédia de Realengo, respondeu: “Se for preciso ajudar a alguma das crianças, claro que farei isso, apesar de ser contra a exploração que a mídia está dando ao caso, o que excita outros loucos a querer fazer o mesmo que esse fez” (numa referência ao atirador que matou 12 crianças, no Rio). Vamos mudar o assunto porque isso não combina com Pitanguy, que tem coisas muito mais divertidas a dizer:
UMA LOUCURA: Toda criatividade tem loucura, nem toda loucura tem criatividade. É não acreditar que amanhã você terá a loucura de estar vivo num mundo que ninguém sabe de onde veio nem pra onde vai.
UMA ROUBADA: Essa é uma palavra atual (ri). A roubada é estarmos sempre apoiados no passado ou no futuro e não estar vivendo o presente.
UMA IDEIA FIXA: Termos de viver em paz e em harmonia.
UM PORRE: Acho um porre pessoas de baixo astral. Temos que evitar.
UMA FRUSTRAÇÃO: Frustração é quando a pessoa espera mais do que se pode dar. Estar ali, entre não tirar a esperança e não decepcionar, muitas vezes, não é fácil. O melhor na convivência é entender o outro e compreender as limitações.
UM APAGÃO: Termos momentos de não recordar de alguma coisa é um apagão. Mas o apagão total, espero que não chegue tão cedo.
UMA SÍNDROME: A síndrome do chato é a pior de todas. É aquele cara que tira a solidão sem dar companhia. Essa frase não é minha, mas nada é de ninguém.
UM MEDO: Eu tenho medo de muitas coisas, principalmente do desconhecido.
UM DEFEITO: Não vejo as qualidades e não vejo os defeitos: o ser humano tem que se gostar.
UM DESPRAZER: A vida nos oferece uma série de desprazeres. O maior deles é quando você quer ajudar pessoas ligadas afetivamente, mas não consegue.
UM INSUCESSO: Quando sobrevivemos a insucessos físicos, temos mais força para saborear a vida depois de vencê-los.
UM IMPULSO: Muitas vezes nos arrependemos de não controlar os impulsos. Já dizia Oscar Wilde que a melhor maneira de vencer uma tentação é ceder a ela; mas nem sempre dá certo — às vezes é só literatura.
UMA PARANOIA: Não tenho grandes paranoias. Não tê-las traz um certo bem-estar, e isso pode ser um perigo.