Tem me preocupado muito abrir os aplicativos de rede social e achar que as pessoas estão ficando com a mesma aparência, todos com o mesmo rosto e ver que o “novo normal” da estética se tornou o conceito de uma boca desenhada, mandíbula marcada, malar (bochechas) elevado e queixo longo, como uma fórmula de bolo, que não respeita as características individuais.
A preocupação com o autocuidado não é ruim — fico feliz por saber que se consome mais skincare e principalmente mais filtro solar no mundo. O que me preocupa são as cobranças exageradas com a autoimagem, impulsionadas pela maior exposição às mídias sociais e videoconferências durante a pandemia.
A situação mundial transformou nossos hábitos, rotinas, sentimentos e sensações. Nós nos vimos diante de uma nova realidade, isolados em nossas casas, sem o contato de família, amigos e colegas de trabalho. E, embora a rotina venha, aos poucos, voltando à normalidade, para várias pessoas, o jeito de trabalhar já não é mais o mesmo e, quem nem sequer tinha tempo para curtir sua casa, agora desfruta da própria companhia em um home office. Nossas interações físicas se transformaram com o uso de máscaras, e as conversas são mediadas por aparelhos eletrônicos e corriqueiras chamadas de vídeo, onde o nosso olhar e expressões dizem muito sobre como estamos passando por estes 21 meses.
Esse aumento da exposição à câmera de videoconferências e os aplicativos de mídia social levaram também a uma maior observação da nossa mímica, proporções e contornos faciais. Queixas, como “meu rosto é assimétrico demais”, “meu rosto está caído, cansado e triste”, “meu nariz é muito grande para meu rosto”, “minha boca é torta ou pequena demais”, tornaram-se mais comuns na pandemia. As lentes, somadas a um olhar crítico, acabaram por realçar características faciais percebidas, às vezes, equivocadamente, pelas pessoas, como “defeitos”, aumentando a busca pela simetria facial.
Porém a simetria não define beleza! São muitos os parâmetros utilizados para avaliar beleza e atratividade do rosto. A percepção de beleza sofre interferências culturais, temporais, de modismos e de tendências de mídia. A simetria e antropometria (medidas numéricas da face) são apenas algumas das referências para avaliar a beleza. Na maioria dos estudos sobre o tema, o que se observa é que as faces consideradas mais bonitas são harmônicas e bem proporcionadas, mas, na sua maioria, com algum grau de assimetria, a exemplo da modelo Gisele Bündchen, considerada umas das mulheres mais lindas do mundo.
Existem recursos estéticos, como ácido hialurônico, toxina botulínica e fios absorvíveis, que, se feitos por profissionais habilitados, podem, sim, deixar um rosto menos assimétrico e com mais equilíbrio entre as proporções, desde que também sejam utilizados produtos de qualidade, absorvíveis com o tempo, respeitando a anatomia e o processo de envelhecimento de cada um. É possível, inclusive, reduzir assimetrias faciais provocadas por lesões nervosas (como aquelas vistas após acidentes ou paralisias). Mas não existe rosto 100% simétrico, mesmo após o preenchimento com ácido hialurônico ou fios de sustentação.
Acho importante, portanto, orientar que, por vezes, o que é visto como defeito se apresenta aos olhos alheios como atraente — é “o charme” de um rosto que o torna único e autêntico. Por isso, prezo, acima de tudo, a naturalidade dos procedimentos estéticos. Uma boca volumosa e desenhada a lápis não cabe em qualquer um; bochecha e mandíbula marcadas não combinam em todo tipo de rosto. A “boca da Angelina Jolie” ou o “nariz da Xuxa” são lindos, mas não necessariamente podem combinar com outra pessoa. Não é possível replicar na prática os resultados que as pessoas veem nos filtros do Instagram, porque eles simplesmente não existem. Vamos valorizar o que temos de mais belo e genuíno, nossa autenticidade!
Exerço minha profissão há mais de oito anos e, quando escolhi a Dermatologia, já sabia que queria ajudar as pessoas nesse caminho da autoestima. No entanto, nesta pandemia, recebendo essas queixas frequentes de assimetria facial e distorções da própria beleza, percebi que minha missão vai além. Meu trabalho é ajudar nessa busca da beleza, mas sugerindo um olhar para dentro de si, uma busca do equilíbrio, respeitando as características individuais e anatômicas de cada um. Portanto, apesar de estudar o envelhecimento e suas implicações, é importante não negar esse processo natural, em que o segredo está em manter a elegância de cada etapa, com cuidados diários e gestos de amor. Afinal, a autoestima é uma construção feita ao longo da vida!
Larissa Oliveira atende na Clínica Les Peaux, na Gávea. É da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e sócia titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD). Formou-se em Medicina na UFRJ e tem capacitação em Tricologia Médica (doenças dos fios e couro cabeludo) no Instituto de Dermatologia Professor Rubem David Azulay, da Santa Casa da Misericórdia. É também membro da American Academy of Dermatology (AAD) e da International Society of Trichoscopy.