A morte de Nelson Freire, aos 77 anos, na madrugada desta segunda (01/11), em sua casa, na Joatinga, sem causa ainda divulgada, é destaque no mundo inteiro. Pegando a França como exemplo, o “Le Monde” noticiou a perda, destacando a sua amizade com Martha Argerich, pianista argentina de quem era muito amigo desde a década de 1960: “Freire era amigo de Argerich, que considerava, como muitos de seus colegas, a melhor pianista de sua geração. Dois anos depois de fraturar o úmero direito numa queda no Rio, em 2019, o pianista cancelou vários shows e sua participação no júri da 18ª edição do concurso internacional de piano Frédéric Chopin, que aconteceu em Varsóvia em outubro deste ano”. Depois de ter caído num calçadão da praia da Barra, mesmo operado, ele não voltou a tocar, ainda com uma pandemia no meio.
A “France Musique”, cadeia de rádio de música clássica, publicou um artigo em sua homenagem. E também prepara uma homenagem a partir das 15h, com clássicos do músico. “É a perda de um gigante. Ele é um daqueles pianistas que são âncoras para a geração mais jovem. Ele sempre foi brilhante, com um virtuosismo muito estimulante. O que sempre me impressionou foi sua alegria em tocar, um prazer instrumental, um toque aveludado, suave, extremamente musical. Foi, sem dúvida, o maior de seu tempo”, descreveu o pianista e produtor francês Philippe Cassard para a “France Musique”.
O amigo Alain Lompech, jornalista e crítico musical, comentou: “Para mim foi mais do que um pianista: era alguém que só vivia para a música. Quando você falava com ele, você sempre tinha a impressão de que estava com ele, mas que uma parte dele não estava lá. Eu o ouvi trabalhando por horas na Sonata nº 111 de Beethoven. Trabalhou de uma forma incrivelmente humilde. Para ele, a música tinha que ser transmitida sem a sua presença, sem ele estar presente, sem que nada se interpusesse entre o público e a obra. Escutei muitos discos com ele. Ele me ensinou a escutar diferente, foi meu professor de escuta”.
O velório do pianista vai ser no Theatro Municipal, onde se apresentou inúmeras vezes, com detalhes sendo organizados por Myrian Dauelsberg, grande produtora de arte clássica.