O cantor Gilberto Gil, de 79 anos, é o segundo negro a ocupar uma vaga na Academia Brasileira de Letras (ABL), nesta quinta (11/11), desde a sua fundação, em 1897. O segundo é Domício Proença Filho. A nomeação acontece uma semana depois de a atriz Fernanda Montenegro se tornar imortal — dois representantes da cultura popular.
Em 2018, a ABL foi muito criticada pela decisão em eleger imortal o cineasta Cacá Diegues em vez da escritora Conceição Evaristo, que seria a primeira mulher negra a ocupar uma cadeira ali, o que abriu discussões sobre racismo e machismo. À época, ela teve apenas um voto contra 22 de Cacá.
Lima Barreto, por exemplo, tentou entrar na ABL no início do século XX, mas não conseguiu. Monteiro Lobato, à época, escreveu uma carta dizendo que Barreto só não havia entrado por ser preto; se fosse branco, seria convidado. Segundo um dos livros do escritor cearense Abelardo F. Montenegro (1912-2010), João da Cruz e Sousa, o “Cisne Negro”, um dos principais representantes do Simbolismo no Brasil, chegou a ter o nome citado quando a ABL foi fundada, mas, como era negro, foi posto de lado. E também disse que Machado de Assis, fundador da academia, só se sentou numa cadeira porque era filho de pardo forro enquanto Lima Barreto e Cruz e Sousa eram filhos de escravos, além de ter camuflado sua negritude, como, por exemplo, colocar pó-de-arroz na barba.