O fotógrafo Bob Wolfenson e o diretor Rod Carvalho acabam de retomar a campanha para ajudar a fotógrafa Melissa de Oliveira, 20 anos, moradora no morro do Dendê, na Ilha do Governador, que costuma retratar o cotidiano da favela e suas particularidades. Mesmo com Wolfenson envolvido — ele é uma espécie de “padrinho” de Melissa e a fotografou para a edição especial da “Elle” sobre os seus 50 anos de carreira —, uma vaquinha, criada em agosto, juntou dinheiro para comprar uma nova câmera, que todos sabem, não é nada barata, mas ainda faltam as lentes e baterias. “O paizão (Bob) e o brabo (Rod) se uniram para fazer essa vaquinha. Isso me deu esperança de trabalhar com um equipamento melhor. Não fossem esses caras fodas aí, não sei quando isso seria possível. A qualidade do equipamento é fundamental para o progresso do fotógrafo, e nós sabemos que profissionais pobres e de favela quase nunca têm essa chance”, diz Melissa.
A ideia do financiamento coletivo foi de Rod, ao convidar Bob para participar da série “Arte: atravessando a pandemia”, sobre artistas de diferentes nichos sobrevivendo a este momento, e ele sugeriu o nome de Mel. “Ao pesquisar sobre ela, deparei com suas fotos incríveis e fiquei maravilhado; então a convidei, na mesma hora, para fazer dupla com o Bob, para a série. Depois de filmá-la e conhecer sua linda história de garra e determinação para mudar de vida pelo seu amor pela fotografia, fechei com Bob e nos unimos para fazer essa campanha para alavancar a carreira”, explica Rod.
Além de retratar a vida numa das maiores favelas cariocas, Melissa pensa no lado social da profissão, como dar aulas gratuitas de fotografia: “Tenho vontade de ver outros jovens saindo daqui pro mundo, tipo os que saem do Vidigal, da Rocinha, da Maré… É uma corrente do bem: você toma a iniciativa e encoraja outra pessoa a tomar também, que vai se espalhando e inspirando mais gente, e assim as redes se formam. Se eu não tivesse uma referência em outra favela, talvez não tivesse feito nada aqui”.
O trabalho de Melissa pode ser visto na mostra “Crônicas Cariocas”, no Museu de Arte do Rio (MAR), com duas imagens mostrando o bronze com biquíni de fita no Morro do Dendê.