Durante um ano e meio, especialistas comentavam sobre o futuro da moda nas redes sociais, de como seria este pós-pandemia, o que os estilistas colocariam nas passarelas em tempos difíceis. A resposta aconteceu de 28 de setembro a 6 de outubro, na semana de moda de Paris, quando os estilistas exerceram, de forma primorosa, seus poderes de criação para as coleções primavera/verão 2022, prestigiando a diversidade, a inclusão e o otimismo em vários desfiles. E, sem dúvida, a maior tendência da estação será sexy, com muito decote, pernas de fora e atitude. Teve também um revival dos anos 60 com o desfile colorido e jovem da Dior, um clima de old school da Miu Miu, a elegância de épocas da Louis Vuitton, a “pista” de dança de Isabel Marant, enfim, todos deram seu recado.
Selecionei algumas imagens do novo sexy pra vocês:
Chanel — a diretora criativa Virginie Viard levou um desfile intimista ao Place Joffre (já que o Grand Palais segue em reforma), remetendo ao fim dos anos 1980 e começo dos 1990, incluindo a maneira de desfilar das modelos – com pivôs e poses cheias de atitude e bom humor – até os figurinos, com maiôs, calcinhas à mostra, jaquetas p&b com detalhes dourados, cintos de correntes e vários colares sobrepostos. “Amava o som dos flashes disparando nos desfiles dos anos 1980, quando as modelos andavam em passarelas elevadas. Queria recapturar essa emoção”, disse Viard em comunicado à imprensa. E foi o que entregou!
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Saint Laurent — foi o retorno da grife à semana de moda parisiense, em que o diretor criativo Anthony Vaccarello fez uma homenagem a Paloma Picasso (filha do pintor cubista), musa de Laurent na década de 1960. A versão de Vaccarello veio da década de 80, com ombros marcados, vestidos e blusas com mangas volumosas, calças justas, padronagem xadrez e contrastes de preto, branco com cores primárias. Nos primeiros meses de quarentena, a Saint Laurent foi uma das primeiras marcas a comunicar que abriria mão do calendário habitual de desfiles e lançamentos, e as duas coleções anteriores foram apresentadas em vídeo.
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Givenchy — o desfile do diretor criativo Matthew Williams, que foi nomeado em 2020, portanto, foi o primeiro dele nas passarelas – marcou o retorno da modelo brasileira Carol Trentini. O estilista usou referências artesanais, como pinturas feitas à mão em colaboração com Josh Smith, artista americano que cria trabalhos ultracoloridos, como os palhaços que estampam conjuntinhos de camiseta e calça e os casacos e blusas de manga longa. No entanto, Williams também imprime sua expertise das ruas, mesclando com os códigos clássicos da Givenchy, um namoro que deu certo.
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Miu Miu — a linha jovem de Miuccia Prada leva um clima sexy ao ambiente de trabalho, um tanto quanto perigoso no ambiente corporativo masculino. Porém é exatamente isso que ela pretende desmistificar: há muito tempo já não é aceitável que a roupa usada no escritório seja algum tipo de desculpa para o assédio, e a sua mulher sabe disso. E tem muita pele à mostra, cinturas baixas com as calcinhas aparecendo pelo cós, sutiãs de fora, blazers encurtados, minissaias com a largura de um cinto, suéteres e polos arregaçadas. E também tem as mais recatadas camisas amplas, conjuntos de saia midi e suéter, jaquetas e saias de couro estonados.
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Isabel Marant — segundo disse à imprensa em coletiva, a estilista teve inspiração em suas férias para a Espanha. Na passarela, biquínis- cortininha com cordões amarrados no corpo ou decorados com babados dividiam espaço com bermudas de surf acetinadas e de cintura baixa, macacões abertos para deixar o ar entrar num final de tarde à beira-mar, tudo muito colorido e alegre.
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Balmain — o estilista Olivier Rousteing comemorou 10 anos de grife em altíssimo estilo, com um evento de dois dias misturando moda e entretenimento. A brasileirada esteve em peso no Jardin des Plantes: Alessandra Ambrosio, Juliana Paes, Simaria, Taís Araujo, Isis Valverde, Sabrina Sato, Sasha Meneghel e Neymar.
Rousteing convidou modelos veteranas, como a francesa Inès de la Fressange, que desfilaram ao som de “My Way”, de Frank Sinatra, para desfilar interpretações das assinaturas icônicas da marca dos anos 1970, que estampou boa parte das peças. Uma das novidades é que, num dos dias, o festival tinha entrada gratuita e, no segundo, era preciso fazer uma doação de no mínimo 15 euros à (RED) e ao Fundo Global, organizações que trabalham na pesquisa e combate ao HIV e AIDS, para garantir um ingresso. “Eu amo música. Eu amo moda. Queria juntar isso com caridade. Também tinha a ideia de fazer um desfile mais inclusivo”, explicou ele. Nos 5 minutos finais do desfile, a trilha sonora foi um discurso de Beyoncé, no qual a cantora agradeceu a Rousteing pelo trabalho de 10 anos à frente da marca.
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Alber Elbaz — sem sombra de dúvida, o desfile mais emocionante da temporada foi o de encerramento, em que 44 estilistas criaram looks para homenagear o estilista, que morreu de covid no dia 24 de abril. Em janeiro, ele lançou sua AZ Factory, com apoio do grupo suíço Richemont, cinco anos depois de sua saída da Lanvin, onde foi diretor criativo por 14 anos. A ideia da AZ era combinar alta-costura com tecnologia para transformar o mercado de prêt-à-porter em algo mais inclusivo e inteligente.
A lista de colaboradores é grande e impactante: de Alaïa (Pieter Mulier), Alexander McQueen (Sarah Burton), Balenciaga (Demna Gvasalia), Balmain (Olivier Rousteing), Bottega Veneta (Daniel Lee), Burberry (Riccardo Tisci) a Casablanca (Charaf Tajer), Chloé (Gabriela Hearst), Christian Dior (Maria Grazia Chiuri), Christopher John Rogers, Comme des Garçons (Rei Kawakubo), Dries Van Noten, Fendi (Kim Jones), Giambattista Valli, Giorgio Armani, Givenchy (Matthew Williams), Gucci (Alessandro Michele) e assim vai. Melhor citar quem não participou…..
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Balenciaga — foi a coleção e o desfile que abalaram Paris. Sempre inusitado, inovador, moderno e inesperado, o diretor criativo Demna Gvasalia mostra como é possível ir além do formato tradicional de desfile, incluindo a ajuda da família Simpsons. É que a parceria entre a marca de luxo e o desenho animado foi estendida para um curta-metragem de 10 min, exibido no Theatre du Chatelet, em que Demna voa até uma deprimida Springfield para convidar seus moradores para desfilar para a marca. Corta para o chefe Wiggum, as tias Patty e Selma, Waylon Smithers, além de Marge, Homer, Bart, Lisa e Maggie Simpson na passarela com looks emblemáticos do estilista: as jaquetas puff com golas estruturadas, a alfaiataria com ombros saltados, os jeans baggy, os dad sneakers e por aí vai.
Os convidados também ficaram confusos com quem era modelo ou amigo da marca, já que desfilaram no tapete vermelho Cardi B, Offset, Elliott Page, Isabelle Huppert, Juergen Teller, Naomi Campbell, Amber Valletta e Dev Hynes. Segundo os especialistas, o estilista pretende romper esse distanciamento entre plateia e passarela, entre o real e o idealizado, porque, como dizem, uma moda só se torna real quando chega às ruas, quando veste pessoas de verdade. A propósito, o look de rosto coberto usado por Kim Kardashian no Met Gala, em NY, estava por lá.
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