Hoje é o Iom Kipur, conhecido como Dia do Perdão, um dia para “atualizar” a si mesmo, aparar arestas com outros e saldar pendências da consciência. Enfim, um dia de cura e remissão para males da alma.
Pensar criticamente a existência não é tarefa que a mente possa dar conta. A mente depende de um peso-e-contrapeso, que é o coração, e, mais ainda, de um orquestrador dessa conversa. A análise objetiva da mente e o sentimento subjetivo, autorreferido, do coração, não conversam sem o arbítrio de algo maior, mais legítimo do que eles mesmos. Consciência ou alma são nomes que tentamos criar para esse árbitro que “escuta”.
A mente vê objetivamente, e chamamos isso de pensamento. O coração vê subjetivamente, e chamamos isso de sentimento. No entanto, a visão nunca consegue ler as entrelinhas. A visão sempre produz linearidade, obviedade, o que a torna impessoal. A visão vê coisas, objetos, enquanto a escuta depende de gente.
A escuta não tenta delimitar, mas tão somente atingir algo real nas suas profundezas, para poder ecoar. Esse retorno de algo que existe no fundo “do poço” é assombroso, é verdadeiro.
Enfim, um dia para ficar mais desperto e exercitar o refinamento da escuta.
A escuta madura desenvolve o crescente interesse em ouvir mais o que o outro tem a dizer do que atentar para suas próprias ideias e opiniões. Percebe, também, que pode aprender muito mais sobre si, escutando o que diz sobre os outros, do que escutar o que os outros dizem sobre si. Há mais material para a escuta no que você fala dos outros do que na crítica “visual” daquilo que os outros falam sobre você.
Nilton Bonder é rabino, líder espiritual, escritor, com mais de 20 livros publicados (entre eles, “Alma Imoral”, que virou peça de sucesso).