Você sabia que a OMS considera “promíscua” a pessoa que tenha mais de três parceiros, parceiras ou parceires sexuais ao longo de um ano?
Isso mesmo. Três. Em um ano.
Se fosse pergunta do Show do Milhão, as opções sendo “3”, “30” ou “300”, eu teria perdido a bolada, porque cravaria “30”, depois de hesitar por 13 milésimos de segundo diante do “300”. Mas três? Nem pensar.
Três míseros, míseras ou míseres parceiros, parceiras ou parceires equivalem a um, uma ou ume a cada quatro meses.
121,6666 dias, em média, sem novidades.
Isso lá é ser promíscuo?
Fui ao dicionário, porque vai que “promíscuo” quer dizer “comedido”, “parcimonioso” ou “entediado” e estive enganado todos esses anos?
De acordo com o Houaiss, é promíscuo algo em que se confundem elementos heterogêneos (“A casa de fulana é uma promiscuidade de estilos”). É o mesmo que embaralhado, confuso (“Esse tuíte do Carluxo é muito promíscuo! ”).
Um “nome promíscuo” é aquele comum a machos e fêmeas da mesma espécie — por exemplo, jacaré, cobra, onça, águia, formiga, baleia, borboleta, mosca, pulga, sardinha, besouro, gavião, polvo, foca hiena, pinguim, tatu.
Sabe-se lá por que, deu-se de chamar de promíscuo também quem tenha (segundo o Houaiss) “inúmeros parceiros”.
E desde quando “três” é “inúmeros”?
Talvez o critério tenha sido estabelecido na Inglaterra vitoriana, em algum mosteiro suíço onde as missas ainda sejam em latim (com o padre de costas, e o Pai Nosso perdoando as dívidas, não as ofensas) ou entre nerds, serafins, náufragos solitários numa ilha com um coqueiro só.
Não li a resolução da OMS, nem sua exposição de motivos, mas suponho que haja uma nota de rodapé esclarecendo que esse número não inclui, por exemplo, o período de Carnaval. Os cruzeiros marítimos. Um domingo na Praia da Reserva. Um sábado num baile funk. Os reality shows. A vida pós Woodstock.
Uma universidade americana pesquisou os países onde a troca de parceiros é mais intensa. No topo da lista está — acredite! — a Finlândia. (Sabe a Finlândia, terra da Nokia e do Papai Noel? Ela mesma.)
Eu estive na Finlândia. Um frio de a gente cuspir granizo e xixi virar estalactite antes de chegar ao vaso sanitário. As trocas de parceiros devem se dar, intensamente, no verão ou na primavera, para compensar os seis meses em que tirar a roupa está fora de cogitação.
Depois vêm, em ordem decrescente de rodízio afetivo, Nova Zelândia, Eslovênia, Lituânia, Áustria, Letônia, Croácia, Israel, Bolívia e Argentina. O Brasil está em 18º lugar. Sim, temos uma vida sexual menos variada que a dos lituanos e letões — e olha que a oferta de parceiros (e parceiras e parceires) é muito menor que aqui (a população lá é, respectivamente 50 e 100 vezes menor).
Outra pesquisa (possivelmente usando outros métodos) indica que os top top ten seriam Reino Unido, Alemanha, Holanda, República Tcheca, Austrália, Estados Unidos, França, Turquia, México e Canadá. De novo, nosso sequiçapiu, nossa malemolência, nosso charme e veneno parecem ser só lenda urbana. Até o Canadá bem mais borogodó.
A OMS pode entender de muita coisa — até mesmo de saúde — mas em termos de sexo, precisa urgentemente se atualizar com os relatórios Kinsey (1948), Masters & Johnson (1966) e Hite (1976). Baixar o Tinder, se inscrever no Ashley Madison, assistir a “De férias com o ex” ou conversar com os filhos adolescentes.
Promíscua é a abelha rainha, que chega a ter 53 parceiros — e em apenas dois anos. Uma média de um zangão a cada duas semanas — e sem ter que se preocupar com depilação. Ou talvez por isso.
Ilustração: Sydney Michelette Jr.