Já ouviu falar na Fabiana Murer, uma das maiores atletas brasileiras de salto? Ela já conquistou três medalhas de ouro: duas em mundiais e uma no Pan, em 2007.
Nos jogos olímpicos de Londres em 2012, foi chamada de “fraca” quando tomou a decisão de não participar de uma prova para se preservar fisicamente, pois avaliou que as condições não eram favoráveis e que arriscava se machucar se saltasse.
“As críticas foram pesadas, me chamaram de fraca, disseram que deveria ter saltado e me machucado, que não poderia ter desistido. Foi um momento duro, em que precisei me desligar bastante das redes sociais.”
Da mesma forma, a ginasta Simone Biles, dos Estados Unidos — maior nome das Olimpíadas de Tóquio —,desistiu no meio dos jogos para preservar sua saúde mental.
“Estou lidando com os demônios em minha cabeça. Preciso me concentrar no meu bem-estar. Há vida além da ginástica”, disse Biles.
Como a Fabiana Murer, Simone Biles sofreu muitas críticas, ou seja, uma falta total de empatia e de apoio por parte do público. No entanto, isso não se restringe a atletas esportivos. Por medo de ser criticados e por não perceberem ou não respeitarem os seus limites, muitos profissionais – de todos os segmentos e todas as classes sociais – chegam a adoecer: ansiedade, transtorno de pânico (o topo da ansiedade), burnout (estafa mental), depressão, câncer, dentre outras doenças físicas e mentais.
Segundo pesquisas da Universidade de Harvard, 80% das consultas médicas têm o estresse como pano de fundo.
O medo da rejeição é muito forte e pode se tornar uma realidade. O ser humano precisa tanto se sentir aceito, incluído e reconhecido, que é capaz de pôr a própria saúde em risco e de não respeitar suas necessidades básicas, como, por exemplo, o descanso, seja físico seja mental.
Eu mesma passei por isso. Durante muitos anos, vivia cansada e doente, com dor de garganta, resfriados, gripes etc; dormia 4h30 por noite, em média.
Eu não tinha consciência das minhas necessidades e não sabia que minha saúde dependia principalmente das minhas ações e do meu estilo de vida. Na verdade, eu fazia atividade física e dieta para ser magra, e não para ser saudável. Eu não sabia que o estresse crônico prejudica a saúde. Eu só soube disso em 2009, quando fiz meu primeiro exame preventivo e teste de nível de estresse. Deparei com taxas alteradas de glicose e colesterol, apesar de ser magra e ingerir alimentos saudáveis. O médico me explicou que era por conta de altos níveis de estresse crônico. Abriu meus olhos.
Ao mesmo tempo, eu começava a estudar mais a fundo a Comunicação Não Violenta (CNV), criada pelo psicólogo americano Marshall Rosenberg. Foi nessa época que me tornei realmente consciente das minhas necessidades psicológicas e fisiológicas.
Pouco tempo depois, passei minha primeira certificação em coaching de saúde e bem-estar e descobri que 73% da saúde dos indivíduos dependem dos hábitos e do estilo de vida. Resolvi me aprofundar no assunto e estudei mais dois anos para obter uma certificação profissional e mais avançada em Health & Wellness Coaching.
Foi nessa época que aprendi realmente a me cuidar, a perceber meus limites e a respeitar minhas necessidades. Posso dizer que é um processo. E não é tão fácil, devido às pressões externas e às próprias cobranças. Até hoje, em determinados momentos, tenho culpa e incômodo quando sinto que chego ao meu limite de cansaço mental. Recentemente, cheguei a sentir medo e vergonha de dizer para meus clientes que eu ia precisar tirar férias. Por mais incrível que pareça, precisei recorrer a uma ajuda externa para conseguir, pois eu não estava me permitindo parar.
Semana passada, escrevi sobre a importância da autoconexão e da autocompaixão. Pois acredito que somos como atletas de alta performance, na vida cotidiana. A partir desse conhecimento e de técnicas de coaching cientificamente comprovadas, ajudei vários profissionais em processo de burnout a sair desse círculo vicioso e a recuperar a saúde.
Como fazer ? Precisamos:
⇒ ler sobre o assunto é saber que isso acontece com os melhores e não é sinal de fraqueza;
⇒ assumir nossa parte de vulnerabilidade como seres humanos (não somos robôs, nosso corpo tem limites);
⇒ aprender a nos preservar, percebendo e respeitando os nossos limites;
⇒ parar de nos compararmos com os outros (cada indivíduo é único, e nunca sabemos da vida dos outros em todos os detalhes);
⇒ter a coragem de pedir ajuda para não adoecer.
O ser humano precisa de mais empatia e respeito, assim como se responsabilizar pela própria saúde e praticar a autocompaixão e o autorrespeito no dia a dia.
Você é a pessoa mais importante e mais valiosa. Sua vida e sua saúde são mais importantes do que as opiniões alheias. Depende de cada indivíduo aprender a dizer não e ignorar as críticas. Que tal começar agora?
Faça o seguinte exercício: pare por um minuto. Feche os olhos, respire a fundo e procure ouvir seu corpo e sua mente.
⇒Qual necessidade sua você não tem respeitado?
⇒O que seu corpo está pedindo?
Faça isso agora; não deixe para depois.
Boa semana!