“Você é totalmente irresponsável!” — foi o que o pai de um empresário muito bem-sucedido disse a seu filho quando largou uma determinada área profissional para se dedicar a outra, quase 60 anos atrás. Na outra ponta, a mãe só elogiava o filho e o apoiava nas suas decisões, dizendo que tudo que ele fizesse daria certo.
Fico pensando: como seria se esse pai tivesse escutado seu filho e tentado compreendê-lo na hora em que tomou aquela decisão, ao invés de julgá-lo? E ainda julgou errado…
Quantos filhos se desconectam e se afastam dos pais por não se sentirem ouvidos, compreendidos e apoiados?
Essa é uma das maiores queixas dos filhos com quem eu tenho a oportunidade de conversar.
“Meu pai não me ouve, ele não me entende! Não dá pra conversar com ele. Ele sempre quer ter razão e sabe tudo melhor do que eu. Não quero mais falar com ele. Sempre termina com uma briga.”
Fico triste quando ouço isso porque sei que esses pais querem o melhor pros filhos, mas não aprenderam a ouvi-los. Tentam educar e transmitir o que aprenderam, dizendo o que acham melhor pro filho a partir das próprias experiências, e não a partir da individualidade e do momento em que o filho se encontra.
Sei o quanto educar é difícil, e filhos não vêm com manual de uso. Por isso, a minha intenção ao escrever este artigo não é julgar nem culpar os pais. Gostaria de expressar minha compaixão e tentar apontar um caminho que foi um divisor de águas pra mim e para milhares de pais no mundo.
Conhecer e aplicar os princípios da educação positiva e da Comunicação Não Violenta pode ser fundamental caso os pais queiram resgatar a conexão e se relacionarem harmoniosamente com seus filhos – principalmente através da escuta empática.
Precisamos aprender a ouvir mais do que falar e a nos conectar com o que os filhos pensam, sentem e precisam. É claro que dá um pouco mais de trabalho na hora, pois é muito mais fácil dizer o que achamos do que tentar compreender.
Na prática, seria mais ou menos assim:
⇒ Pai, decidi mudar de área, vou tentar outro caminho; quero fazer o que eu amo. Acho que vou me realizar mais.
No lugar de responder:
⇒ Filho, você é totalmente irresponsável, não se muda assim só para fazer o que lhe dá prazer. Você não vai ganhar dinheiro.
O resultado disso é um filho que se sente frustrado e incompreendido pelo pai, começando a brigar e reclamar. Depois de tentar se fazer ouvir, acaba se afastando e engolindo sapos para não piorar a briga.
Tente:
⇒ Filho, deixe-me entender: você já tomou a decisão de mudar de área porque acha que vai ficar mais feliz, é isso?
Provavelmente o filho responderia abrindo-se mais e explicando por que tomou essa decisão. Continue fazendo mais perguntas, tentando compreender seus motivos, suas necessidades e o que realmente importa para ele. Se sua preocupação é ele não ganhar dinheiro, pergunte-lhe se ele chegou a pensar no aspecto financeiro. Pergunte quais são seus planos para se sustentar e ter autonomia financeira. Ele pode ter pensado em algo que você não imaginou e até surpreendê-lo. E, se não pensou, de repente, você pode levá-lo a pensar, sem afastá-lo.
Se quiser influenciar positivamente seu filho, mostre capacidade de ouvi-lo e compreendê-lo. Se ele achar que você não o compreende, nunca vai aceitar seus conselhos, pois não vai achar que se aplique a ele.
Para facilitar a aplicação desses conceitos na prática, criei um método depois de 10 anos ajudando pessoas a resgatar a conexão e melhorarem seus relacionamentos – chamei de Método CONECTA. São sete passos que permitem ter conversas difíceis e resolver conflitos sem perder a conexão:
Curiosidade
Ouvir
Não julgar
Empatizar
Checar
Transição
Autenticidade
Passo #1. “C” de Curiosidade: faça mais perguntas, de preferência, abertas, cuja resposta não seja nem “sim”, nem “não”.
Passo #2. “O” de Ouvir: ouça atentamente, sem interromper seu filho. Segure a ansiedade!
Passo #3. “N” de Não julgar: deixe seus preconceitos de lado e abra sua mente para tentar se colocar no lugar dele.
Passo #4. “E” de Empatizar: procure entender como seu filho se sente e o que ele precisa e valoriza.
Passo #5. “C” de Checar: reformule o que você o ouviu dizer, para checar se o que você entendeu foi de fato o que ele quis dizer. Isso o fará se sentir ouvido e compreendido de verdade.
Passo #6. “T” de Transição: depois de ter ouvido atentamente e reformulado, perceba se é o momento de você falar. Antes de você se expressar, pergunte se seu filho gostaria de ouvir sua opinião, seu sentimento ou um conselho.
Passo #7. “A” de Autenticidade: fale de si e de como se sente com o que seu filho falou ou decidiu fazer. Evite julgá-lo e usar adjetivos e rótulos.
Se você estiver com medo de ele não ganhar dinheiro, não o chame de “irresponsável” — diga que você se sente preocupado com a decisão dele, pois gostaria de ter certeza de que vai conseguir se sustentar. Nunca diga que ele não vai ganhar dinheiro com isso. Por mais que você tenha razão, ele não vai ouvir se você for por esse caminho. Procure fazê-lo enxergar com os próprios olhos, através de perguntas. E, de repente, pode ser que tenha que passar pelas próprias experiências para aprender. Paciência…
Ou seja, se quiser o melhor para seu filho, é necessário criar uma conexão de qualidade com ele, assim:
1. evitar rótulos, julgamentos, avaliações e interpretações;
2. ouvir mais e exercer empatia e autenticidade.
Experimente e me conte!
Boa semana e até a próxima segunda!