Há quatro anos, resolvi investir no setor de bebidas. Em 2017, meu único objetivo era criar algo em que eu acreditasse, ao lado do meu sócio, Alexandre Mazza (artista plástico). Nunca imaginei que a Amázzoni chegaria onde está tão rápido — dois anos depois, ganhamos o primeiro prêmio, o “World Gin Awards”, como o Melhor Produtor Artesanal do Mundo, em Londres. Hoje estamos produzindo 1.500 garrafas por dia (eram 500).
Todos os dias da minha vida, eu imagino muita coisa, pois tenho muita visão de futuro. Me considero um sortudo por conseguir fazer algo de que eu gosto, com pessoas de quem gosto. Até por isso, tenho aprendido muito em uma área para a qual não estava preparado, já que minha formação é de arquiteto e designer. Eu era apenas um consumidor de bebida alcoólica. Nunca imaginei que seria produtor, mas sempre soube que, na vida, o importante não é a trajetória, e sim a paixão, a persistência, amor e carinho, além da vontade de fazer diferente acima de tudo.
Nasci na Itália, mas sempre quis morar fora do meu país, porque sou curioso, adoro fazer descobertas e trocar conhecimentos, ensinar e aprender muito. O Brasil foi um presente, onde encontrei pessoas que me enriqueceram culturalmente e com quem faço uma troca há 11 anos. O brasileiro acredita que, lá fora, tudo é melhor, mas é algo que vem mudando e que tem que mudar, porque o Brasil tem muito a oferecer. Me apaixonei pela vida brasileira, e o que me fez ficar foi uma série de coincidências – encontrei pessoas maravilhosas, amores e sócios, assim como novos projetos. Tenho planos de continuar no Brasil pela qualidade de vida altíssima, o calor, a alegria, a descontração. O retorno financeiro nem é tão óbvio: foi resultado de muito trabalho e muita sorte também, mas não é para mim o que mais importa.
Acredito que o sucesso da Amázzoni foi espontâneo porque o projeto foi feito por pessoas normais fazendo o que gostam. Então, quando conseguimos, atendemos o cliente mais exigente, que somos nós mesmos; depois, todos à nossa volta se identificaram com o gin. Também fomos pioneiros no mercado de destilados artesanais, e entendemos a mudança de consumo dos brasileiros da cachaça (caipirinha) para os drinks mais elaborados.
Veio a pandemia, e levamos um susto porque ninguém esperava. Não estávamos preparados. Nosso canal principal de distribuição sempre foram os bares e restaurantes, onde fizemos o nome da marca, e nossa primeira atitude foi “ninguém larga a mão de ninguém”. Não tivemos demissões, todos se sacrificaram, se reorganizaram, redistribuímos as funções e todos continuaram. Depois de quase um ano e meio, tivemos altos e baixos. Começamos eu e o Mazza, depois fomos crescendo. Hoje temos 30 pessoas, aproximadamente 18 na produção e 12 no escritório e distribuição.
É importante destacar que sempre respeitamos muito o feminino e, por isso, na destilaria, temos apenas mão de obra feminina, justamente para que apenas mãos de mulheres mexam com o líquido, desde a hora que ele entra no alambique até sair da destilaria. Isso é uma obrigação de coerência nossa, além de ser uma homenagem às mulheres que tanto participam do conceito da marca (Amázzoni significa guerreiras amazônicas). Elas são a origem de tudo, e nossa marca fala de e para as mulheres. Na pandemia, o consumo mudou, de bares e restaurantes passou para a casa. O que eu percebi, claramente, é que as pessoas não só mudaram a forma de consumo, como também tiveram mais tempo para se aprofundar e começar a entender a qualidade, a procedência e o carinho do produto artesanal. Isso foi muito bom; assim conseguimos ter a atenção de que precisávamos.
Ter a destilaria sempre foi um pré-requisito, um lugar onde receber e mostrar a veracidade do projeto com a maior transparência. Hoje somos a única destilaria de gin que os apaixonados podem visitar, ver o alambique e a destilação, conhecer a nossa receita, colocar literalmente a mão na massa e ter uma experiência imersiva, também com almoço e degustação. E tudo isso em um contexto altamente brasileiro: uma fazenda colonial de 304 anos, em meio à natureza do Vale do Paraíba, onde é possível chegar também de helicóptero. Estamos recebendo até estrangeiros. Hospedagem ainda não está nos nossos planos, já que a região possui estruturas de todos os tipos, pousadas, hotéis e fazendas, tudo muito acolhedor.
A pandemia nos obrigou a rever o modelo de negócios. Nos últimos 15 meses, tivemos um crescimento enorme no Brasil e um grande interesse na exportação.
Como tenho a facilidade de ter o passaporte europeu, consegui passar quatro meses na Europa no ano passado, e deu muito certo em termos de mercado. Acabei de chegar de outra estada de três meses, e temos a meta de abrir, em oito países, novos nos próximos meses. Estamos na luta com grande felicidade, alegria e gratidão. Também vamos reforçar as conversas com nossos sócios da Pernod Ricard, segunda maior produtora de bebidas no mundo. Temos muito a dividir com eles nessa troca de experiências pelo crescimento da marca. Então, daqui em diante, vem muita coisa boa.
Arturo Isola é arquiteto e empresário, sócio da Amázzoni, com Alexandre Mazza, que, em menos de três anos, tornou-se a maior produtoras de gin artesanal da América Latina. Atualmente, a marca está em 15 países e já ganhou alguns prêmios, como o “Destiller of the Year”, no World Gin Awards 2021, o Oscar das bebidas, e “Best Brazilian Old Tom”, na mesma premiação. Recentemente lançou o “Gin Distillery Tour”, um passeio pela destilaria no Vale do Paraíba, interior do Estado do Rio.