A vacinação contra a covid vem progredindo no Brasil, ainda que de forma lenta e cheia de obstáculos. Uma das barreiras tem sido a hesitação vacinal. Sem ter um movimento antivacina bem definido, como nos Estados Unidos, diversos brasileiros têm tido dúvidas sobre a sua eficiência e possíveis efeitos adversos. Essa dúvida levou muitos ou a não se vacinarem, ou a aguardar a chegada de uma vacina teoricamente melhor (leia-se, mais eficiente), ou a não completar o esquema de doses preconizado.
Vacina é redução de risco, não passaporte imunitário. Por isso, até que a maioria da população esteja vacinada, o distanciamento social e as medidas de contenção de risco continuam válidas. A forma mais fácil de visualizar esse conceito é o do desconto. Se uma camiseta custa R$ 1.000,00 e tem um desconto de 50%, ela continua cara. Se custa R$ 100, o desconto já se torna mais atrativo. Em um cenário de alta transmissão do vírus, a redução de 50% do número de casos é importante, mas não suficiente. Se a transmissão for baixa, a doença pode até se extinguir com a cobertura vacinal adequada.
Nas palavras da Dra. Natália Pasternak, não adianta ter o melhor goleiro do mundo se a defesa do seu time for uma porcaria. A vacina é o goleiro; a defesa são as medidas de distanciamento e redução de risco. Se a defesa falhar constantemente, uma hora a bola vai entrar.
Por isso, precisamos de vacinas. Quais? As que forem aprovadas. Quando? O mais rápido possível. Para quem? Para todos.
Outra dúvida que afasta as pessoas da vacinação são os efeitos adversos. Efeitos colaterais existem com todas as vacinas, inclusive já tendo sido relatadas mortes associadas — o que é diferente de ter sido causado pela vacina. A vacina pode ter efeitos colaterais? Pode. Com que frequência? Raramente.
A percepção de risco é subjetiva, o que nos torna vulneráveis a qualquer tipo de propaganda enganosa. Sempre que falamos de risco, precisamos ter uma comparação. O risco de trombose com determinada vacina é baixo ou alto quando comparado a quê? Até o momento, o risco estimado de trombose associada à vacina é de 1 para 100.000. Pondo em perspectiva, é seis vezes mais fácil você ser atingido por um raio durante a sua vida, que desenvolver trombose por conta da vacinação. Lembre-se de que o risco de trombose se você pegar covid é de 1 para 10, e o risco de morte por covid é de cerca 1 para 100. Quando foi a última vez que você foi atingido por um raio?
Portanto, quando chegar a sua vez, vacine-se. Por você, pelos que você ama e por todos nós.
Cassia Righy é intensivista, médica do Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer e pesquisadora do Laboratório de Medicina Intensiva da Fundação Oswaldo Cruz. Fez doutorado em Pesquisa Clínica em Doenças Infecciosas na Fiocruz e pós-doutorado no Instituto Pasteur.