“Ih! Tô sem carisma hoje…” Dias atrás, recebi essa mensagem no meu WhatsApp. Achei graça da expressão e fiquei cá pensando se era coisa da geração jovem ou, quem sabe, do pessoal de Uberlândia, onde vive meu amigo.
Jururu, tristonho, sem ânimo seriam outras formas de transmitir a mesma ideia. Sim, porque é importante ter uma linguagem, um código que facilite falar dos nossos sentimentos.
Compreender, dar nome e expressar o que estamos sentindo são de grande valor porque nos ajudam a lidar melhor com o que estamos vivendo. Também nos possibilitam entender o que está acontecendo com as demais pessoas de nosso convívio.
A pandemia despertou inúmeros sentimentos. A princípio, fomos tomados de perplexidade e pavor com algo que fugia inteiramente ao nosso controle, desde o pavor de contrair o vírus, perder pessoas queridas, perder fonte de renda, até não dar conta de tanta coisa que se acumulou no home office.
O tempo foi passando, os profissionais de saúde adquiriram maior domínio de como lidar com a doença, e a população teve acesso a informações sobre os cuidados necessários para proteger-se minimamente.
Mas já se vão 15 meses. Mudamos inteiramente nossa forma de socializar, namorar, consumir, trabalhar, enfim, de viver. O home office se instalou de vez, para o bem e para o mal. Se, por um lado, mandou pelos ares a crença de que a produtividade só se garante se batemos ponto diariamente nos escritórios, por outro, borrou as fronteiras entre o profissional e o privado. Tem gente louca para voltar ao escritório e ao convívio com a galera, e tem gente que se encontrou no “home life” e não quer outra vida.
Tudo indica que, na hora de voltar, a maioria das empresas adotará um sistema híbrido, com dias no escritório para tudo referente ao trabalho coletivo. Se é que a gente pode fazer o jogo do contente com o horror que é a pandemia, o flexoffice será um ganho, provando que, sim, as pessoas não precisam de controle quando estão engajadas com seu trabalho.
O tema da saúde mental se tornou prioridade. Se os números já eram alarmantes em tempos pré-pandemia e colocavam o Brasil em lugares de destaque nos rankings de ansiedade, depressão e burnout, a crise sanitária pôs os profissionais da Psicologia e Psiquiatria em alerta, bem como os de Recursos Humanos, que deram início a muitas ações destinadas a prevenir o adoecimento mental, inclusive criando Diretorias de Saúde Mental.
Contudo, o que dizer de um estado em que muitos de nós nos encontramos hoje, que não é depressão, não é burnout e que está difícil de nomear?
Pois é… Adam Grant, psicólogo organizacional de Wharton, em artigo no NYT em maio passado, deu nome aos bois e ao bode que a gente vem sentindo. Ele denominou de estado de “languishing” (definhando) essa falta de alegria e objetivo que vem acometendo muitos de nós diante de uma situação que parece não ter fim.
Segundo ele, “languishing” é a sensação de estagnação e vazio. “É como estar confundindo os dias, olhando para a vida através de um para-brisa enevoado.”
Adam Grant tomou o termo emprestado do sociólogo Corey Keyer, que, em 2002, em artigo no Journal of Health and Social Behavior, descreve o estado de saúde mental como um contínuo que vai de um estado de “flourishing” (florescer) a um estado de “languishing” (definhar).
Mas o que podemos fazer agora, que já temos nome para o que antes não sabíamos nomear?
Como vamos nos cuidar e proteger desse estado de “definhamento”?
O psicólogo sugere concentrar-se em pequenas metas para alcançar pequenas vitórias.
Resolvi fazer uma rápida pesquisa com os amigos, perguntando o que eles andam fazendo para não definhar. Uns estão aprendendo a cozinhar, tendo aula de bodyboard, trabalho voluntário; outros andando à beira-mar bem cedinho; outros arrumando armário e se desapegando de tudo que não é mais útil.
Eu? Se fosse gato, já teria morrido de curiosidade. Abri um barzoom logo no início da pandemia, e é lá que ponho o papo em dia com os bons, velhos e novos amigos. Se tem coisa que me deixa de carisma alto é uma boa conversa!
E você?
Jacqueline Resch é consultora e sócia-diretora da Resch RH. É formada em Psicologia pela PUC-Rio, tem MBA pela COPPEAD (UFRJ), pós-graduação pela IPUB/UFRJ e se especializou em práticas de colaboração e diálogo pelo Taos Institute (EUA).