Há exatos quatro anos, meu Eduardo, meu marido, recebeu a notícia de que portava um câncer com pouquíssimas chances de cura. Durante dois anos, minha vida ficou voltada para acompanhar, cuidar e acarinhar o homem que me mostrou que, apesar de toda a adversidade e pressão às quais estávamos sujeitos, não só merecíamos atravessar aqueles tempos desfrutando de uma vida digna, mas também que conseguiríamos. E, sim, desfrutamos e conseguimos. Passados dois anos da sua partida da nossa casa, dormindo ao meu lado e acompanhados por nossos filhos (as minhas e os dele), fico indignada com o que assisto acontecer na nossa terra, no país que nos viu nascer, crescer, viver e que presenciou sua morte digna, com todo o amor e reverência que esse momento exige.
Em 2019, foi anunciada, em palestras e simpósios, a crise que o mundo atravessaria no ano seguinte. Segundo pesquisas feitas na França, na década de 1960, 2020 seria o ano mais crítico do século XXI. Não sabíamos exatamente o que levaria o mundo a parar, mas previmos sua paralisação. Para nós, o alerta vermelho estava aceso, e a direção a ser tomada era a da solidariedade. A palestra que fiz no Simpósio Internacional de Astrologia do SINARJ (Sindicado dos Astrólogos do Rio de Janeiro) tinha como título “Os Outros somos Nós”. Entretanto, da mesma maneira que cada indivíduo tem o livre-arbítrio sobre suas ações diante do fluxo da vida, cada país é responsável pelas suas ações diante do caos anunciado, e suas consequências dependem de tais ações.
O Brasil está derretendo. Derretendo e sangrando.
Acompanhando meu parceiro, aprendi, mais do que tudo que já tinha vivido, que é possível, sim, insistir na vida e na dignidade de atravessar seus últimos dias com dignidade, amor e valorização do ato de viver e morrer. Aprendi, na prática, a força do amor, da compaixão e da solidariedade, coisa que não vemos por aqui neste momento em que o País derrete e sangra.
Há exatos quatro anos, minha vida mudou e eu me transformei. As projeções astrológicas apontavam para essa metamorfose que eu deveria atravessar. Carioca de nascimento, gaúcha de coração, mudei-me para São Paulo, lancei o livro “Astros e Previsões”, pela Globo Livros, e comecei uma nova vida. Passado esse tempo, afirmo minha paixão pelo Eduardo, pela arte de ensinar e pelo trabalho de conversar com as pessoas praticamente todos os dias, apontando o fluxo natural das suas vidas.
E, para que não derretamos e sangremos mais, é preciso nos posicionarmos contra as ações que destroem nossa dignidade diante da vida e da morte. A banalização de ambas nos torna seres amorfos e fadados ao derretimento e ao sangramento de nossas almas.
O Brasil está derretendo e, com ele, as nossas forças que insistem em não morrer. O meu grito hoje é que insistamos na nossa potência de viver — com amor e dignidade!
Claudia Lisboa é mestra em Astrologia e escritora, com agenda lotada de janeiro a janeiro. Carioca, mudou-se recentemente para São Paulo e acaba de lançar “Astros e Previsões” (Globo Livros).