Já tive minha fase de gostar de videocassetadas.
Durou uns 15 minutos.
Depois veio a dos erros de gravação, dos quais tinha ficado órfão com o fim do Vídeo Show.
E a dos erros de continuidade, que foi quando descobri que não levava o menor jeito para obsessivo.
Veio a fase de me encantar com imagens feitas por drones. Por câmaras de infravermelho, desvendando o que se passava no breu das savanas. Por surfistas, com Go-Pro.
Acompanhei, de camarote, perseguições alucinantes.
Testemunhei um milhão de acidentes de carro, na Rússia.
Glaciares vindo abaixo na Antártica. Vulcões fazendo pirotecnias na Islândia. Robôs da Nasa comendo poeira no sertão marciano.
Mais recentemente, foram os vídeos de comida de rua, no Oriente. Aquelas coisas que não haveria qualquer possibilidade de eu provar, mas que nos vídeos parecem uma festa de Babette.
Tudo isso é passado. Vídeo virado no meu Youtube. Atualmente só tenho olhos para tutoriais de “faça você mesmo”.
São quase todos americanos, bem produzidos e ensinam como fazer abajur com casca de coco, moldura ardecô com papel de pão, rebatedor com sombrinha e lanterna, bicama retrátil que vira escada, estante, churrasqueira e bancada de telejornal.
(Ok, esta última aí foi uma licença poética. Mas é quase isso.)
Vídeos assim permitem que pessoas que são uma negação para para trabalhos manuais, como é o meu caso, se sintam um mix de MacGyver com Rodrigo Hilbert, só que melhorado.
Para fazer uma réplica de um pé de mesa, basta ter um pedaço de madeira. E um torno a laser com rotação planetária, duas furadeiras de titânio, uma esmerilhadeira a vácuo, cinzéis articulados desenvolvidos para o ônibus espacial e uma impressora 3D a laser termodinâmico. Coisa que qualquer americano médio tem na garagem.
Para consertar um azulejo trincado, é só um pouco de cola. E uma pistola de solda com precisão quântica, um secador de polímeros, um paquímetro digital e um torquês homocinético.
Tudo simples e fácil. Praticamente uma salada de alface e tomate da Rita Lobo. Nada que requeira prática nem tampouco habilidade.
Só fico pensando se quem tem todo aquele equipamento de última geração precisa mesmo colar um azulejo, trocar um pé de mesa ou decorar a mesinha de cabeceira com um abajur de casca de coco.