A internet mente. Ou, mesmo considerando que quem minta sejam os autores dos textos, ela é culpada do mesmo jeito, por veicular as mentiras. Como, por exemplo, a informação de que Rita Pavone tenha 75 anos.
Rita Pavone nunca passou dos 20. Incompletos.
Tem o cabelo joãozinho, um baita topete, um jeito andrógino e, se não me engano, usa minissaia. Nada disso, convenhamos, combina com uma senhora de três quartos de século.
75 anos é coisa para Austregésilo de Ataíde, Kirk Douglas, Elizabeth II.
Não é preciso ser James Dean, Kurt Cobain ou Leila Diniz para permanecer jovem para sempre. Há os que são, como Rita Pavone, do clã do Peter Pan, da Emília, do Nelson Motta: imunes às trapaças do tempo.
O que uma garota com aquela cara de sapeca mais quer é ouvir surf music e dançar o hully gully. Deem-lhe um martelo, e ela vai sair abrindo a cabeça da sirigaita de olhos pintados, de quem dança coladinho, de quem a deixe entediada. Vai espatifar o telefone — para que a mãe não ligue, antes que o pai chegue. Ninguém da melhor idade faria isso.
A internet também insiste na feiquenius de Frankie Avalon ser um octogenário e no absurdo da morte de Anette Funicello. Basta uma pesquisa (na mesma internet!) e lá estarão os dois — como sempre estiveram — na Praia dos Amores, vivíssimos, jovens e em trajes sumários. Sumários para a década de 60, bem entendido. Não sei se aquilo que dançam pode se chamar de hully gully, mas certamente tem a ver com surf.
Não tenho mais visto Rita Pavone na TV Excelsior nem Frank e Anette nas matinês do Cine Brasil e do Cine Odeon, e faz tempo que no rádio da cozinha não toca Bermuda, Bahama, come on, pretty mama. Nem Pata pata ou Para bailar la bamba. Resisto a procurar no gúgol pelos Beach Boys, por Miriam Makeba e Trini López. É provável que algum engraçadinho tenha espalhado por lá que… você sabe.
Porque há de estar também, na internet, a notícia que um ônibus da viação Cometa arrancou a mureta do Viaduto das Almas e despencou feito estrela cadente, levando consigo Zélia Marinho — que, por isso, não irá mais apresentar o Roda Gigante, a partir de setembro de 1967. Só pode ser mentira, mas difícil de contestar já que, por algum motivo técnico, não consigo mais sintonizar a TV Itacolomi (“Sempre na liderança, Canal 4, Belo Horizonte, Mi-nas Geraaaais). A cozinha, onde ficava o rádio, é agora (dizem) uma ruína, num hotel fantasma. O Cine Brasil tem caixas registradoras e gôndolas de legumes. No Cine Odeon, um pastor promete milagres e arranca o dízimo dos incautos que hoje — como eu há 50 anos — cruzam aquelas portas em busca de uma ilusão.
Não, não caio nas lorotas da internet. Sei que foi um aplicativo que transformou os Beach Boys em Beach Grandpas e um ráquer quem tirou Frank e Anette das matinês. Vou negociar um pacote da Net que inclua a Itacolomi — e a Zélia estará lá, com os 24 anos que sempre teve. Assim como Rita Pavone, no Shangri-la da memória, terá eternos 19.
Se quiserem saber o que penso de quem acredita numa Rita Pavone com 75 anos, deem-me um martelo.