O que alguns cientistas, médicos e pesquisadores estão falando sobre o depoimento de Mayra Pinheiro, a “Capitã Cloroquina”, na CPI da Covid, nesta terça (25/05).
João Alho (reumatologista e clínico geral pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), professor na Universidade do Estado do Pará (UEPA-Santarém): “Sou reumatologista e trato com hidroxicloroquina pacientes com chicungunha crônica, pois não estamos tentando matar vírus (que já não participam dessa fase), e sim a ação reumática da doença. Mayra Pinheiro ou é mentirosa ou não entende do que está falando. Na fase aguda da chicungunha, ou seja, quando tem ação viral, a hidroxicloroquina é contraindicada, assim como corticoides e anti- inflamatórios, pois seus efeitos adversos podem causar graves problemas, somados à ação do vírus, sem conferir nenhum benefício. Seja na chicungunha ou na artrite reumatoide, ou no lúpus, ou qualquer indicação de hidroxicloroquina, usamos no máximo 400 mg ao dia, enquanto que, no reino da fantasia negacionista, usam pelo menos o dobro dessa dose diária. Não é papel da CPI discutir evidências científicas porque já temos certeza de que ela está errada, não deveria ter espaço para defesa do negacionismo. Mayra está no Senado como testemunha de um inquérito de crimes cometidos contra a Saúde Pública, que já matou mais de 450 mil pessoas”.
Atila Iamarino (biólogo e pesquisador, formado em microbiologia e doutor em virologia): “A declaração da secretária do Ministério da Saúde à CPI é bem clara sobre o que vale a respeito da cloroquina: ‘As entidades científicas que comprovarem através de trabalhos com boa qualidade metodológica os fundamentos que nós usamos, nós vamos utilizar’. Só vale o que confirma. É como se ela defendesse que milhares de pessoas juram de pés juntos que o tratamento precoce funciona, sem apontar um resultado concreto. Um em cada quatro brasileiros tomou kit covid. Se vivêssemos no mundo de faz de conta onde isso funciona contra a covid, não seríamos o 2º país em mortes registradas no mundo. Ou o 10º em mortes proporcionais”;
Hugo Fernandes (biólogo, PhD, professor e colaborador do Observatório da Covid): “Os senadores precisam de cientistas para formular perguntas e réplicas. Aproveitem e já levem até o fim do mandato pra estabelecer políticas públicas. Com todo respeito à equipe técnica que compõe a assessoria, mas eles estão despreparados para enfrentar o negacionismo! Mayra mente sobre hidroxicloroquina. Quando o app TrateCov foi lançado, a hidroxicloroquina já havia sido morta e enterrada há meses. Só sobrevive em site de 5ª categoria defendido por médico de 10ª”;
Daniel Dourado (médico, advogado sanitarista, professor, pesquisador da USP e Universidade de Paris): Mayra Pinheiro acaba de defender a cloroquina como tratamento precoce contra covid e a imunidade de rebanho por contágio. E se manifesta contra lockdown. Está se entregando. É a primeira que está bancando o discurso negacionista abertamente na CPI. O que a Mayra quer é levar o debate político para o campo de uma suposta disputa de evidências científicas. Os senadores não podem cair nessa. Se nunca houve comprovação de eficácia, jamais poderia ter sido adotada cloroquina e nem o kit-covid”.