O jornalismo carioca, de praticamente todas as gerações, está de luto com a morte de Aloy Jupiara, nessa segunda (12/04), aos 56 anos, de covid. Ele estava internado no Hospital São Francisco, na Tijuca, desde o dia 29 de março. Com dificuldades burocráticas para mexer no dinheiro de Aloy, a família precisou criar uma vaquinha entre os amigos. Mas, ao saber, João Roberto Marinho, vice-presidente do Grupo Globo, bancou as despesas de R$ 10 mil do enterro. Há quem pense: grande coisa pro João Roberto. Pode até ser um valor pequeno, mas o gesto é grande, mais ainda, neste momento de desencanto.
Seu último posto foi como diretor de redação do jornal “O Dia”; anteriormente, esteve por mais de 20 anos no jornal O Globo, onde trabalhou como repórter, coordenador e subeditor de Rio, editor e coordenador de Política do jornal e, além disso, foi pioneiro no jornalismo online, com a criação dos sites GloboNews.com e Extra On-line. Ele também foi jurado e coordenador do Prêmio Estandarte de Ouro.
Em parceria com o também jornalista Chico Otávio, lançou os livros “Deus tenha misericórdia dessa nação: A biografia não autorizada de Eduardo Cunha” e “Os Porões da Contravenção”, mostrando a relação entre a ditadura e o jogo do bicho no Rio. Recentemente, participou do documentário “Doutor Castor”, sobre o bicheiro Castor de Andrade, no Globoplay.
As mensagens nas redes sociais foram incontáveis, e o nome de Aloy esteve entre os assuntos mais comentados desta terça (13/03), com amigos de redação, em sua maioria, lembrando que, além do faro investigativo, ele era conhecido pela tranquilidade e serenidade, num meio em que prazo e pressão são regras.
Martha Imenes (jornalista, subeditora do jornal O Dia): “O Criador deve estar montando um periódico daqueles e chamou alguns dos melhores pra sua equipe. Aloy foi levar sua gentileza e amor ao Carnaval como contribuição”;
Mário Magalhães (jornalista, autor de “Sobre lutas e lágrimas” e “Marighella”): “Na faculdade, o Aloy era um guri cheio de sonhos. Na vida, viveu-os, porque os sonhos não envelhecem. Tornou-se o grande jornalista Aloy Jupiara. A cada gole de vinho branco, a bebida favorita dele, vou me lembrar do Aloy. Um beijo, amigo”;
Fernanda da Escóssia (editora da revista Piauí): “Amor, amizade, alegrias… e samba, sempre. Quanta lembrança boa nos deixa Aloy. Morreu de Covid em meio ao caos sanitário e político do país. Saudades do gentil Aloy. O Estandarte de Ouro devia criar o troféu Aloy Jupiara para alguma categoria da premiação. Ou passar a se chamar Estandarte de Ouro Jornalista Aloy Jupiara”;
Bruno Chateaubriand (jornalista e integrante do Estandarte de Ouro): “Estou arrasado com a perda de uma pessoa como ele: gentil doce, discreto e extremante competente. Conheci Aloy em 1998, no meio da passarela do samba. O carnavalesco Oswaldo Jardim, que nos apresentou, me falou na época: ‘Esse cara entende muito’. Desde então fiquei ligado em tudo o que esse brilhante jornalista escrevia. Aloy amava e respeitava as tradições dos desfiles das escolas de samba. Na última semana de fevereiro conversamos, rimos e falamos do carnaval de 2022. Amigo, que sua passagem seja tranquila e cheia de luz!”;
Cleo Guimarães (jornalista Veja Rio): “A mais delicada e adorável das pessoas. Nele a anatomia ficou louca, era todo coração”;
Luis Erlanger (jornalista e escritor): “Não conheci na profissão um colega que passasse tamanha e permanente imagem de tranquilidade, num ofício em que a tensão é constante, até pelo cumprimento de prazo. Silêncio na bateria”;
Bernardo Araújo (jornalista): “Arrasado com a morte de Aloy, velho companheiro de redação, de muitos carnavais, uma das pessoas mais doces e, ao mesmo tempo, um dos melhores jornalistas que conheci. Saudações imperianas eternas (ele era Império Serrano)”;
Luiz Antonio Simas (escritor e mestre em História, especialista em carnaval): “Muito triste. Foi Aloy Jupiara que, em 2012, ligou me convidando para ser jurado do Estandarte de Ouro. Convivi ao longo desses anos com um cara doce, sério, generoso, divertido; tremendo jornalista! Mais um que a peste, auxiliada pela irresponsabilidade do poder público, leva”;
Mauricio Santoro (cientista político): “Há muitas maneiras de homenageá-lo, mas sugiro leitura do ótimo livro que escreveu da parceria entre ditadura militar e crime organizado no Rio. Ajuda muito a entender o nosso momento atual.”