A crise da água no Rio está longe do fim, na visão do biólogo Mario Moscatelli. Foi um tiro no escuro o tratamento usado pela Cedae para remover a geosmina, que, além de não funcionar, ainda liberou um novo poluente no rio Guandu, o lantânio, um metal tóxico pesado. “Geralmente, os sedimentos que não têm oxigênio podem aprisionar metais pesados, que são tóxicos à saúde humana. O fundo do rio é fedorento e, à medida que dilui esgoto, você joga uma água com nível de oxigênio mais elevado na lagoa e, consequentemente, pode haver liberação de metais pesados. Isso é fruto de décadas de lançamento de esgoto doméstico e industrial”, explica Mario. Ele acredita que, antes de fazer esse serviço “quebra-galho”, os especialistas da estatal deveriam pesquisar o fundo dos rios. “O que vai parar a produção da geosmina é o outono — a estação menos quente faz os microrganismos reduzirem a produção.”
Segundo dados da Cedae, 190 toneladas de Phoslock — uma espécie de argila modificada que contém o lantânio usado em rios quando há proliferação de cianobactérias — foram lançadas à lagoa do Guandu, desde janeiro do ano passado, na primeira crise da geosmina. O metal é tóxico e pode causar, por exemplo, problemas no fígado. Mas, segundo nota da Cedae, a concentração de lantânio na água da lagoa foi de 0,0027 mg/L, ou seja, “centenas a milhares de vezes inferior às que causam toxicidade a organismos aquáticos”.
Moscateli finaliza: “Senhores experts, cuidado com o que as excelências estão arrumando com medidas pirotécnicas de resultado para lá de duvidoso, podendo, inclusive, piorar o que já está ruim! Se não acreditam em mim, contratem biogeoquímicos e, antes de fazerem bobagem, aconselhem-se com quem entende do assunto. Repito que ainda há muito espaço para piorar o que já está insuportável.”