Está a toda, nas redes, o vídeo do Dr. Jairinho, em que reza o “Pai Nosso”: ele era do clube que mistura religião com política. “O teu tesouro está onde está o coração, está na Bíblia. Se você não coloca semente boa, você não frutifica”, disse em live para pedir votos ao ex-prefeito Marcelo Crivella no ano passado (ele era líder do governo Crivella na Câmara dos Vereadores). Detalhe: a transmissão foi feita no Dia das Crianças. Num trecho, Crivella, que é pastor evangélico, elogia o colega, dizendo: “Jairinho é um dos poucos vereadores de mandato vitalício. E é isso, vereador é quem vê a dor.”
Dois recentes casos envolvendo pastores evangélicos vêm mostrando o efeito nocivo da religião na política brasileira. O pastor Everaldo, da Assembleia de Deus, presidente do PSC, foi preso no ano passado, na mesma operação que afastou do cargo o governador Wilson Witzel — que, em fevereiro, foi visto pregando a “salvação” de pessoas por meio da religião durante um culto na Assembleia de Deus dos Últimos Dias — por ser o chefe do esquema de corrupção dos respiradores na pandemia, segundo delação do ex-secretário de Saúde Edmar Santos.
E, como já dissemos aqui, tem o caso da deputada Flordelis (PSD), fundadora da sua própria igreja, o Ministério Flordelis, apontada pela Polícia Civil e o Ministério Público Estadual do Rio como mandante do assassinato do marido, o pastor Anderson, com 30 tiros, em junho do ano passado.
Religiosos têm entrado para a política com um discurso moralista contra os maus políticos e maus costumes em geral — no caso de Jairinho, ele se apresentava “defensor da família, contra a ideologia de gênero e era a favor da igreja aberta na pandemia”, ou seja, o combo completo do “cidadão de bem” e da “Família Tradicional Brasileira”.
Fato é que a bancada evangélica no Congresso Nacional está cada vez mais numerosa — em 1994, eram 21 deputados federais evangélicos; hoje, já são 105 deputados e 15 senadores, ou 20% da casa. A religião na política vai contra os princípios do Estado laico, conforme a Constituição de todas as democracias do mundo, incluindo a brasileira. Não existe bancada religiosa no Congresso de democracia nenhuma no mundo inteiro, exceto nas falsas, como no Irã dos aiatolás.
A live completa abaixo (a fala de Jairinho a partir de seis minutos):