Certa vez, discuti com uma amiga que veio visitar-me e almoçar na minha casa. Ela trouxe a filhinha de 2 anos, uma menina muito fofa, sempre sorridente e muito simpática.
Quando ela chegou, peguei a menina no colo, brinquei um pouquinho com ela e sugeri que fôssemos para o segundo andar, onde iríamos almoçar. Na hora, minha amiga tentou pegar a filha, quase arrancando-a do meu colo, porque não queria que eu subisse a escada com ela, com medo de que eu caísse e a filha se machucasse. Eu disse que ela não precisava se preocupar porque eu ia prestar muita atenção e segurar o corrimão. Mesmo assim, insistiu para pegar a menina, e não me deixou subir com ela.
Na hora, fiquei chateada porque não entendi o excesso de preocupação – eu queria que ela confiasse em mim. Eu lhe disse que achava um exagero da sua parte. Ela ficou irritada e indignada e disse que eu não podia julgá-la, que ela tinha motivos para ficar com medo porque acontecem muitos acidentes com crianças. Concordei que acidentes acontecem, mas lhe disse que eu tinha ficado chateada por ela não confiar que eu ia prestar atenção.
Ela me respondeu, dizendo uma coisa que muitas pessoas acabam me cobrando e exigindo de mim sempre que temos uma discussão:
“Você, que fala tanto de empatia, devia me compreender e respeitar meu medo.”
Essa frase me deixou mais chateada ainda, porque a maioria das pessoas sempre exige que eu seja compreensiva e empática por ser especialista em Comunicação Não Violenta, mas não pensem nem um segundo em se colocar no meu lugar, para compreender e respeitar o que eu sinto.
Nesses 10 últimos anos pesquisando e trabalhando com pessoas, percebi que a grande maioria acha que o outro é quem deve compreender e ser empático. É muito raro que as pessoas tentem entender o outro primeiro.
Então, quem deve dar o primeiro passo? Quem deve compreender primeiro?
Não há resposta certa. Acredito que quem tem mais consciência e mais disposição na hora da discussão, deve procurar ouvir e compreender o primeiro. Por exemplo, no caso dessa discussão com minha amiga, quando percebi que ela precisava de empatia, não de julgamento, semsibilizei-me e procurei entender por que ela estava com tanto medo. Ela me explicou. Compreendi, respeitei, porém não concordei com o ponto de vista dela e expressei o que eu estava sentindo. Continuei um pouco chateada na hora, mas, pouco tempo depois, esse sentimento passou porque conseguimos dialogar e eu me expressar também.
Na hora da discussão, confesso que foi bem desconfortável, como qualquer conflito, mas só conseguimos resolver porque não fiquei engolindo sapo. Procurei usar uma comunicação consciente e assertiva, ou seja, nem submissa nem agressiva.
Não podemos confundir assertividade – que costuma gerar um constrangimento no momento do conflito – com agressividade, embora a assertividade seja recebida como uma agressão por muitas pessoas. Culturalmente, enfrentar e discutir não é bem aceito.
Depois de mais de 10 anos de experiência com gestão de conflitos, acredito que o melhor caminho para solucionar problemas nas relações é enfrentar a situação e aprender a dialogar, de forma construtiva, quando discordamos. Ficar engolindo sapos não costuma resolver, apenas postergar o problema e alimentar nosso vulcão interior. Durante muitos anos, fui uma “engolidora de sapos profissional”, o que também me fez ser “vulcão” em muitas ocasiões.
A Comunicação Não Violenta (CNV) mudou minha forma de enxergar os conflitos e me ajudou a preservar minhas relações mais preciosas. Aprendi a ouvir com empatia e a me expressar de maneira autêntica, sem agredir. Hoje eu consigo lidar com discussões com menos desconforto e de maneira mais tranquila e construtiva.
Acredito que o mundo seria muito melhor se todos conhecessem e praticassem a CNV no dia a dia. Que seus conceitos continuem se espalhando!