Repentinamente, com a Covid-19, os pacientes crônicos que faziam controle regular de seus problemas vasculares, com medo do contágio, sumiram dos nossos consultórios.
Na especialidade vascular, além de lidar com problemas venosos, tais como varizes, também lidamos com doenças vasculares degenerativas que, mesmo bem cuidadas, podem progredir rapidamente. Conversando com colegas da área, ouvi diversos relatos de feridas infectadas e doença arterial descontrolada que já chegam ao consultório para serem avaliadas em estado avançado de comprometimento, o que poderia ser evitado com um atendimento precoce.
Soube também de alguns pacientes que tiveram um edema súbito, endurecimento de panturrilha e dor na perna (sintomas clássicos de trombose) que, às vezes, por medo de saírem de casa, tendem a diminuir a importância do sintoma e retardarem a procura por ajuda.
Além dos problemas crônicos, que continuam acontecendo, estamos diante de uma infecção que aumenta o risco de trombose venosa. A covid leva o sangue a um estado pró-trombótico, o que ainda se associa a sintomas como febre e mal-estar, que acabam por manter as pessoas em repouso. Sabemos que esse somatório de fatores aumenta significativamente o risco de trombose venosa, o que mais comumente ocorre nas veias musculares da panturrilha. Nos pacientes mais graves, notou-se, ainda, uma diminuição dos anticoagulantes naturais, o que amplia ainda mais esse risco.
O medo de sair de casa ou de ir a um hospital aumentou muito; isso acarretou outro fenômeno que pude observar. Foi uma tendência tanto por parte dos pacientes quanto por parte dos médicos de realizarem, sempre que possível, procedimentos de forma ambulatorial, ou seja, fora do ambiente hospitalar.
Nesse aspecto, fui bastante beneficiado por contar com uma estrutura completa aqui na minha clínica, em Ipanema. Atualmente, consigo realizar praticamente 100% dos tratamentos de varizes e “vasinhos” sem necessitar de internação ou repouso, associando técnicas como CLaCs (Cryolaser + Cryoesclerterapia) para microvarizes e utilizando o laser endovenoso para o tratamento de sanefas e varizes grossas.
Portanto, temos que colocar na balança os riscos e benefícios e compreender que, às vezes, o que sentimos ou apresentamos pode ser pior que o risco da própria Covid-19. O diagnóstico precoce de agravamentos vasculares crônicos ou da trombose venosa profunda pode fazer toda a diferença.
Leonardo Stambowsky é especialista em cirurgia vascular, membro de inúmeras sociedades brasileiras e da americana Society for Vascular Surgery. Tem clínica em Ipanema.