O dia 22 de março é mais um em que, no mundo, destaca-se a importância da água como um bem finito, essencial, portanto, estratégico para a vida e para o desenvolvimento econômico. Nada de novo!
Eu poderia encher aqui de dados quantitativos a respeito do tema, fato que só iria reforçar o que, solitariamente, tenho denunciado por meio de fotos e vídeos aéreos desde 1997, esforço reconhecido, inclusive, pela imprensa nacional.
Pelos mais variados motivos, boa parte das pessoas não lê os inúmeros documentos técnicos estarrecedores produzidos sobre o assunto, mas, felizmente, por meio das imagens, consegue-se ativar áreas do cérebro que geram algum tipo de reação momentânea no público em geral.
Destaco que nem isso tem sido o suficiente para sensibilizar a sociedade e, consecutivamente, os tomadores de decisão sobre o estado terminal da água em seu estado mais puro e potável quando olhamos para a Região Metropolitana do Rio de Janeiro.
O tema não desperta interesse dos candidatos eleitos tampouco dos eleitores, portanto, as causas e consequências do caos hídrico, seja no caso da água-doce, salgada e salobra, simplesmente continuam acontecendo e espalhando-se como se fossem uma metástase sem grande importância.
Constituído basicamente por água, o ser humano tem conseguido prodígios de degradação cada vez mais rápidos, convertendo bacias hidrográficas em imensos valões de esgoto sem vida, como baías e lagoas em gigantescas latrinas, assim como ecossistemas economicamente produtivos, em depósitos de lixo e esgoto.
O absurdo dos absurdos se materializa quando três rios, convertidos há décadas em valões de esgoto, extravasam esgoto doméstico e industrial justamente no ponto de captação da estação de tratamento de água do Guandu, sem que NADA de efetivo tenha sido feito para combater esse tipo de situação absurda desde as primeiras denúncias, em 1999.
Destaca-se que a Estação de Tratamento do Guandu é de água, e não de esgoto! Portanto, desconheço tecnicamente como essa estação possa estar dando conta de tratar a água que chega contaminada e que abastece, após o tratamento dado, milhões de consumidores da Região Metropolitana do Rio de Janeiro.
Veio a “crise da geosmina” em 2020 e, com ela, as promessas de sempre. Chegou o ano de 2021 em plena pandemia, e a situação continua exatamente a mesma de um ano atrás.
Um mix de esgoto, impunidade, irresponsabilidade e passividade produz o quadro monstruoso — e sem data para terminar — num lugar onde as pessoas, individualmente e coletivamente, especializaram-se na arte de degradar, por ação e omissão, o recurso primário do qual todos, sem exceção, dependemos.
A mudança da rota de colapso é possível tecnicamente. Exige esforço orçamentário, gestão econômica eficiente, continuidade como política de estado e principalmente fim da impunidade, verdadeiro cancro que corrói qualquer tipo de iniciativa séria que se tente implementar nesse lugar.
Não tem sido por falta de conhecimento técnico nem por falta de recursos, pois, quando há vontade política, o dinheiro abunda, aparecendo de toda parte. O que tem faltado é pressão da sociedade, que parece não entender o risco que corre!
Enquanto esse novo despertar não acontece, as baías de Guanabara, Sepetiba e lagunas da Baixada de Jacarepaguá vão tendo extensões cada vez maiores de seus espelhos d´água convertidos em áreas mortas, retratos de uma cultura voltada exclusivamente para o uso até a exaustão de seus recursos naturais.
Esse é o problema cultural de um lugar que não evoluiu ainda, no século XXI, de sua condição de colônia de exploração, onde o que interessa é obter o máximo no menor prazo possível, normalmente de forma irracional e predatória.
Finalmente, precisa ficar claro que, por trás de cada processo de degradação do elemento estratégico água, há grupos públicos e privados que se beneficiam economicamente da degradação. Disso eu não tenho a menor dúvida! Resta saber até quando continuaremos nessa marcha suicida.
Salvem a água, salvem-se!