Se os conflitos já tinham aumentado de forma significativa à época das últimas eleições presidenciais, em função de uma forte polarização, agora, o cenário piorou de vez. Com um número recorde de mortes por dia, a revolta e o medo da Covid-19 ficam cada vez maiores e atingem até os mais otimistas. Isso é absolutamente normal e compreensível no contexto atual.
Pelo que tenho observado, as pessoas estão com as emoções à flor da pele e têm brigado muito por terem opiniões diferentes, mas também, por amor — amor próprio e amor ao próximo.
Uma cena comum, hoje, é a seguinte:
— Mãe, você tem mais de 70 anos! Você não pode sair de jeito nenhum!
— Filha, pare de ser chata! Eu não sou criança. Eu sei me cuidar.
— Mãe, você é muito irresponsável e egoísta! Você só pensa em você e acha que nada pode acontecer contigo! Como se fosse imortal!
— Então, pare de me ligar. Não quero que fique me vigiando nem que acrescente mais estresse na minha vida!
Além do medo, as mágoas acabam preenchendo cada vez mais espaço nos corações. Cada um se sente incompreendido e fica mais preocupado ainda com a situação.
Como lidar com isso e evitar um desgaste nas relações?
Primeiro, desenvolvendo a empatia para compreender sentimentos, necessidades e crenças próprias e dos outros. Buscar compreender sem julgar.
Por exemplo, o que pode levar uma pessoa idosa a sair apesar do risco? Muito provavelmente, uma forte necessidade de autonomia e liberdade. Pode ser que essa pessoa acredite que nada vai acontecer com ela, portanto sente-se segura e não tem medo de sair. Se é uma questão de crença, tentar convencê-la do contrário é perda de tempo e de energia. O que você pode fazer é expressar seus sentimentos, dizer o quanto você a ama e o quanto você fica preocupado quando ela está saindo de casa.
Segundo, desenvolvendo a tolerância, respeitando opiniões diferentes. Respeitar não significa concordar. Em caso de divergência, ouvir mais, falar menos e tomar uma distância emocional, evitando um desgaste desnecessário.
Terceiro, desenvolvendo a aceitação. Aceitar que nem tudo está sob nosso controle e que cada um é responsável pelos próprios atos — pelo menos, quando se trata de adultos com saúde mental. Você pode fazer sua parte, mostrar o exemplo e tentar convencer as pessoas a fazer aquilo que você acredita que deve ser feito. Contudo, não consegue obrigar ninguém a fazer algo que não queira nem a seguir seus conselhos ou seu exemplo.
Entretanto, se quiser convencer alguém que é importante ficar em casa e proteger-se, o melhor caminho será através da escuta empática e da expressão dos seus sentimentos. Tente entender como a pessoa se sente, o que ela pensa, quais são as necessidades dela e dizer como você se sente com isso, para tentar sensibilizá-la. É muito difícil influenciar uma pessoa que já tem opinião formada, sem tentar compreendê-la antes. Se você ouvi-la primeiro, ela estará mais disposta a ouvi-la depois. Procure fazer perguntas abertas, ouvir mais e se colocar de verdade no lugar das pessoas.
Boa semana — com máscara, empatia, tolerância, respeito e muita saúde! E, se puder, fique em casa.