Há quinze dias, em um grupo de empreendedores de que faço parte no WhatsApp, eu e meus colegas recebemos uma mensagem sobre o ClubHouse. Na correria do dia a dia e em meio a dezenas de mensagens, eu só li a frase “quem quer um convite?”. Eu nem sabia do que se tratava, mas já respondi “eu quero”, apenas pela necessidade de fazer parte e não perder uma oportunidade. Até existe um fenômeno conhecido como FOMO (“Fear of Missing Out”) ou medo de perder alguma informação, alguma coisa. E pior ainda, é ficar de fora, não pertencer.
Logo fui pesquisar sobre o Clubhouse e li que era uma nova rede social que estava em alta entre muitos famosos, como Ashton Kutcher, Elon Musk, Oprah Winfrey e outras personalidades. Vi que era uma rede restrita também, uma vez que só é possível entrar através de convite, e cada pessoa tinha direito a apenas dois. Tudo isso fez com que a rede se tornasse cobiçada em muito pouco tempo. Virou febre!
O resultado é que a grande maioria das pessoas quis entrar de forma muito automática. Toda a narrativa sobre a nova rede social ativou alguns gatilhos mentais meus e me despertou a vontade de fazer parte de algo exclusivo.
Você pode estar pensando: “Ok, mas o que isso tem a ver com a Comunicação Não Violenta?”
A Comunicação Não Violenta é muito mais do que saber comunicar-se: é entender o ser humano nas suas raízes e nas suas formas de funcionar. Quando a gente entende que tudo o que o ser humano faz tem por objetivo atender às suas necessidades (conforme explica Marshall Rosenberg, pai da Comunicação Não Violenta), compreendemos o porquê de algumas pessoas terem determinadas atitudes, como a minha, de aproveitar uma oportunidade, dizendo que queria um convite sem saber do que se tratava. Qual era a minha necessidade? Fazer parte, ser incluída. A necessidade de inclusão é uma das necessidades mais básicas e mais fortes do ser humano.
Essa percepção das necessidades é interessante e importante, pois assim conseguimos compreender-nos melhor e também o outro.
Acredito que, dentro do Clubhouse, será necessária muita Comunicação Não Violenta e empatia – seja para exercitar a capacidade de ouvir, seja para saber comunicar-se de forma assertiva na hora de ter que lidar com situações, como a de interromper alguém que esteja estendendo-se no tempo ou fugindo do assunto.
Daí fica a pergunta: como fazer isso de forma cuidadosa e respeitosa?
Bom, eu mesma passei por uma situação delicada há alguns dias: uma pessoa, que aceitei como speaker, em uma sala onde eu era a moderadora, pôs-se a falar sem uma comunicação consciente. Sem ter o cuidado de prestar atenção – se ocupava muito espaço ou se deixava a palavra para outras pessoas -, começou a desviar-se um pouco do tema e do objetivo da conversa. Precisei interromper essa pessoa e redirecionar.
O Clubhouse é uma ferramenta só de áudio, então a atenção ao tom de voz para tentar captar os sentimentos das pessoas é fundamental. Entender se a pessoa está com medo de ser julgada ao se expressar, por exemplo, é importante para um moderador. Nesse momento, precisei ter o cuidado de interromper sem julgar, sem deixar de pontuar a minha necessidade de atenção com o tema e com o objetivo daquela sala. Isso não foi fácil; acredito que a pessoa não tenha gostado, pois pediu desculpas e saiu da sala na sequência. Isso me fez refletir e me perguntar se eu poderia ter redirecionado a fala dela de outra maneira; provavelmente, sim. Ficarei muito mais atenta no futuro.
Na prática, é importante estar presente no momento. Para quem está moderando ou falando, é preciso ter consciência das palavras, do tom de voz, do ritmo da sua fala e se perguntar: qual energia estou manifestando na minha fala? É uma energia pesada ou de leveza e entusiasmo? Qual energia quero transmitir para a audiência? Tudo isso requer presença e consciência.
Uma dica para os moderadores de salas: preste atenção em sua fala e na do outro, desacelere, tente não fazer outra coisa ao mesmo tempo e preste atenção aos não ditos, pois pode haver uma mensagem ou intenção por trás. Ter a capacidade de aprender a reformular o que você ouviu e checar se o que a pessoa disse é o que ela quis dizer, é um elemento importante da comunicação no Clubhouse.