Aqui, alguns personagens que adoram carnaval, com alguma dependência do carnaval, cuja vida foi mudada pelo carnaval, ou um pouco de cada, e até quem odeia o carnaval, contando algumas histórias sobre outros carnavais porque talvez só mesmo no ano que vem… Com alguma sorte. Quem poderia imaginar que aquele vírus que deu as caras no fim de 2019 transformaria tudo numa interminável Quarta-feira de Cinzas?
O jeito é apostar tudo em 2022, no carnaval da revanche e relembrar o samba-enredo “O Amanhã”, da União da Ilha, em 1978, que virou um clássico: “Como será o amanhã/responda quem puder/ o que irá me acontecer/ o meu destino será como Deus quiser…”. Ou ainda o famoso filme de Woody Allen “Tudo pode dar certo”.
Valéria Valenssa (apresentadora, empresária e eterna Globeleza, de 1993 a 2005): “Todos os carnavais foram especiais. Sem dúvida, cada vez que desfilava na Sapucaí (ela começou em 1990 e passou por várias escolas), era uma emoção nova. Participei de carnavais em São Paulo, Salvador e Olinda, mas desfilar no Sambódromo, um dos maiores palcos do mundo, é de uma emoção ímpar. Me sentia em casa, abraçada pelas escolas e sabendo que seus amigos vão estar na plateia esperando para te ver passar. Imagina eu, que muitas das vezes ficava do lado de fora, só assistindo, da concentração, aos carros passarem, porque não tinha dinheiro para participar dos desfiles e, depois, durante 15 anos, eu fui um dos destaques da nossa maior festa popular do mundo. É muito emocionante! Sou grata por tudo o que aconteceu na minha vida através do samba, do personagem que exerci por muitos anos (Globeleza)”.
Carol Trentini (modelo): “Minha primeira vez no Sambódromo foi em 2009, desfilando pela Grande Rio. Mas o meu melhor carnaval foi quando desfilei pela Portela, em 2019, a convite do estilista Jean Paul Gaultier, que desenhou alguns dos figurinos da escola. Foi muito emocionante estar na avenida, cantando um samba-enredo tão forte e importante (“Na Madureira Moderníssima / Hei Sempre de Ouvir Cantar uma Sabiá”, da carnavalesca Rosa Magalhães, em homenagem a Clara Nunes) e, no dia seguinte, ainda pude voltar para casa a tempo de curtir o resto do feriado com meus filhos e marido. Foi o equilíbrio perfeito de folia e descanso.”
Luiz Fernando Guimarães (ator): “Tenho umas 300 histórias, mas tem uma que lembro bem. O Jorge Fernando (1955-2019) convidou todos os artistas da Globo para o desfile da Beija-Flor de 2014, em homenagem a Boni de Oliveira. Ele saiu na frente, e a gente foi num carro tipo bolo de casamento, com três andares. A estrutura debaixo era mais larga e a do meio, menor; então escolhi a do meio porque dali a gente conseguia ver a arquibancada. Tinha Arlete Salles, Susana Vieira… Era um mundo de gente, mal cabíamos no carro, um se apoiando no outro. E foi aí que eu descobri que levávamos 45 minutos para atravessar a passarela do samba. Foi muito divertido porque o público via aquele monte de artista e se levantava, gritava e gente rodava naquele bolo. Mas foi um sufoco, um se apoiando no outro pra não cair, e o Jorginho embaixo mostrando o elenco dele. Não sei se foi o melhor carnaval, mas a energia era ótima; foi uma pequena cilada, tanto para subir quanto para descer. Definitivamente, um carnaval inesquecível.”
Hélio de la Peña (escritor e humorista): “Meu carnaval dos carnavais foi o do ano passado. O motivo é muito pessoal. Tive a honra de ser convidado pelo Salgueiro pra encarnar, na Avenida, o Benjamim de Oliveira, primeiro palhaço negro de sucesso no Brasil. Um desfile inesquecível!”
José Victor Oliva (empresário paulista, à frente do Camarote Nº 1): “Carnaval dos carnavais para mim é sempre o próximo. Como eu trabalho muito por causa do camarote, nunca vi as escolas de samba; dou uma olhadinha, mas, em 32 anos de Sapucaí, nunca consegui ficar parado para assistir, porque tem muita gente para se ver e falar. O que eu sei é pela TV, no dia seguinte. Sou muito bom de camarote, mas de carnaval, não. O melhor carnaval é sempre o próximo porque o mais gostoso é imaginar o que vai acontecer, quem a gente vai chamar, qual é a novidade, o tema, porque ter o melhor camarote da Sapucaí é uma super-responsabilidade e não dá pra fazer igual porque queremos que os 2 mil convidados (por dia) sintam nosso amor e dedicação. Eu me lembro de um samba incrível, nem sei de qual escola, o ‘tum tum prucurundum… zum zum sei lá e tal ’ (“Bum Bum Paticumbum Prugurundum”, do Império Serrano, em 1982) – pra você ver como sou bom de carnaval…. Eu gosto muito da Grande Rio, onde desfilei duas vezes e nem sabia direito o samba: tive que decorar de última hora. No mais, eu amo o Rio, a Sapucaí, o carnaval, o Maracanã… Se você me perguntar se prefiro Paris ou Rio, lógico que o Rio. Amo cada segundo que passo nesta cidade. O carnaval e o réveillon são os grandes momentos, e 2022 vai ser a maior festa de todas.”
Carla Benchimol (administradora): “Nunca tive o carnaval dos carnavais porque tenho pânico de carnaval. Não consigo achar graça nessa obrigação de comemorar, estar pulando, se divertindo. Não consigo ir atrás de todo mundo. Nunca gostei.”