A pandemia, apesar de ser um período muito complicado, também está sendo um momento em que o artista consegue expandir sua visão sobre a arte, aproveitando a quarentena para repensar e diversificar sua obra. Eu, por exemplo, criei arte em chapéus, máscaras, bonés e várias outras coisas, graças a esse tempo livre. Aproveitei também para pintar muito sobre o Brasil, coisas bem tropicais. Sinto muita falta desse mundo colorido que é o País.
Apesar de eu ser francês e ter obras que refletem diferentes culturas, o Brasil é a minha maior fonte de inspiração. Já visitei 70 países e morei em 20 deles, mas nunca encontrei algo parecido. Vivi três períodos no Brasil, pela hotelaria. Fui para Salvador, em 1990; depois, outras oportunidades vieram, e morei no Rio, entre 2004 e 2007, e, posteriormente, entre 2014 e 2019. O jeito brasileiro de ser é algo que me encanta. É um país que me marcou muito pelas cores, pela música e pela gentileza.
Atualmente vivo na Espanha (Málaga) e, mesmo estando em casa, em isolamento social, tomando os devidos cuidados contra esse vírus cruel, a arte me permitiu seguir explorando o mundo e revisitando lugares que sempre amei. Para mim, é muito importante viajar e descobrir novos horizontes. Quando pinto, faço um passeio com meu pincel e minhas cores para uma viagem extraordinária. Em minhas obras, a mensagem é muito simples: amor, alegria e liberdade.
No entanto, como nem tudo são flores, com a pandemia e a necessidade do fechamento de galerias de arte físicas, houve dificuldades no acesso às obras de muitos artistas; porém, novas formas de consumo foram criadas. A UP Time Art Gallery — galeria de arte itinerante que une artistas de diferentes países para fazer um trabalho muito importante de democratizar a arte e dar apoio aos artistas independentes — é uma das pioneiras nessa nova forma. Graças a ela, consigo fazer com que minhas pinturas cheguem a diferentes espaços e lugares do Globo, já que a galeria funciona por meio de vendas e exibições online.
Infelizmente, nem todos os artistas independentes e espaços pelo mundo possuem essa preparação, e muitas acabaram precisando fechar as portas definitivamente. Eu sou, por natureza, otimista e sei que a cultura tem e sempre terá seu lugar. Temos, como artistas, de ser parte da sociedade e passar, por meio da nossa arte, mensagens positivas e levar a todos muitos sonhos e muita energia.
Para trazer de volta a alegria que o País me trouxe, deixo aos internautas o meu projeto especial, nomeado “Meu Brasil Visto pelo Coração”, que junta trabalhos do País que me inspiram pelas cores, diversidade e cultura. Espero que, juntos, possamos enxergar a vida e o mundo com um olhar renovado, mais otimista, mais colorido e mais alegre.
Philippe Seigle é ex-hoteleiro e artista visual francês. Filho de pai diplomata, morou em 20 países, incluindo o Rio, por duas vezes. Hoje vive em Malaga, na Espanha.
Alguns dos trabalhos de Seigle: