Apesar de ter contratos fechados que foram suspensos e de experimentar uma sensação de colapso em tantas áreas, não só na minha, do agenciamento de atores, não me desesperei com o cenário que a pandemia me apresentou.
Com a chegada do coronavírus, pude perceber o quanto se gastava dinheiro e a nova possibilidade de economizar. E olha que não foi fácil. De início, cessaram os testes de elenco e gravações; gente com contrato já assinado na mão viu tudo ser cancelado. A fase ainda é de retomada e, talvez por uma questão de temperamento, não desanimei. Todas as vezes que apareceram situações complicadas na minha vida, consegui manter uma certa serenidade. Desespero impede você de pensar direito, não deixa a cabeça funcionar; daí é hora de buscar algum equilíbrio.
O mercado de atores hoje é muito mais concorrido que o de antigamente, fato. As redes sociais cresceram muito. Vemos, todo dia, o surgimento de “influencers”, muitos deles se achando atores. E eu não gosto que chamem os atores de “influencers”. Sei que também desenvolvem esse papel, mas é como quando fazem uma campanha publicitária e atuam como modelos.
Passado quase um ano, tudo foi se remodelando no meio — os atores precisaram aprender a filmar, a sacar o que é uma boa luz, para fazerem as selfie-tapes. Nós, agentes, passamos quase a exercer a função de diretor, orientando cada vez mais a performance deles nesses vídeos. Eu mesma vejo, quatro, cinco vezes, o vídeo de algum ator antes de enviar para um teste. No meu trabalho, não podemos criar falsas ilusões. Um ator que está começando precisa se conhecer, entender a própria identidade; não pode achar que vai cantar como a Whitney Houston se não tem extensão vocal para isso. Eu falo a realidade porque as expectativas são muitas.
E vai dar certo se estiver no lugar certo, na hora certa e surpreender o mercado com uma identidade interessante, de personalidade. Por isso, o autoconhecimento é fundamental; tem muita gente equivocada, achando que não precisa estudar. Sempre comparo ator com jogador de futebol: se o Neymar precisa treinar, por que o ator vai estar pronto? E quando não está pronto, vai responsabilizar o agente pelo seu insucesso?
Respeito cada um, as expectativas e as deficiências. Tenho olho clínico, vejo o que precisa ser corrigido; o pior é quem não cabe na fôrma a qual se propõe. E não sou domadora de humores — alguns ficam muito famosos e insuportáveis. Prezo pela educação, continuo firme e, se não gostar do meu estilo, lamento. Pessoa complicada eu não domo; prefiro, simplesmente, não tê-la por perto, sabe? E não importa o grau de fama – estrelas mudam de lugar.
E para dar certo, é preciso buscar conhecimento o tempo todo. Digo que criança não é ator; está ator — no futuro, é que vai descobrir. A Bruna Marquezine, que eu lancei, sempre teve um brilho no olhar. Ela nem queria ser atriz, só desfilar, por causa de uma prima de quem ela gostava. E olha até onde ela foi com esse brilho! Quando me perguntam quais são as minhas dicas para uma carreira deslanchar, sempre falo três coisas: autoconfiança, empatia e sociabilidade. Talento e soberba podem ser uma combinação perigosa. Eu adoro as estrelas verdadeiras, mas não tenho a menor paciência para estrelismo. Comigo, não!
Ieda Ribeiro é agente de atores desde 1992 e, agora, também comanda o Centro de Preparação Artística com seu nome, no Largo do Machado.