Acho importante reconhecer quando estamos diante de um fracasso monumental. Ao contrário de ficarmos nos lamuriando pela falta de sorte ou pondo a culpa no vizinho indesejado, o ideal seria analisarmos o que fizemos de errado e partirmos para a mudança e reconstrução.
Essa tem sido minha forma de pensar e agir desde que deparei com os primeiros erros pessoais e com o tipo de profissão que assumi, isto é, proteção e recuperação.
Insistir nos mesmos erros ou, ainda, diversificá-los, sempre buscando apenas quebra-galhos, atalhos ou novos caminhos para repetir as mesmas sandices — geralmente baseadas em desvios comportamentais de fundo cultural que já mostraram o estrago que produzem —, é um suicídio individual e coletivo.
Pois bem, aqui estou no tal “sábado de carnaval”, quando, segundo a imprensa, por toda a parte, borbulham convites virtuais de festas carnavalescas para comemorar não sei bem o quê! Talvez a vida dos que ainda viverão nos próximos 15 dias após o final do “carnaval dos mortos-vivos”. Sim, “bloco dos mortos-vivos“, pois muitos dos que vão se esbaldar nos próximos dias poderão estar sufocando em algum hospital sem infraestrutura para lhe dar ajuda. Sem falar no contágio — ainda mais intenso para os que, por infortúnio, serão atingidos mesmo não se expondo no carnaval.
Uma quantidade expressiva de pessoas não conseguiu ainda entender, diante dos números estarrecedores de mortos, que estamos numa corrida entre a lenta vacinação e a rápida transmissão e capacidade de mutação do vírus, que parece ter cérebro quando comparado às suas vítimas.
Destaca-se que, dependendo da tal mutação, o vírus torna-se mais agressivo e resistente. Portanto, é uma verdadeira corrida em que já estamos muito, mas muito, atrás do “pestinha”.
Independentemente do que você acredite ou deixe de acreditar, o vírus acredita e agradece a imbecilidade generalizada, sendo que a tal economia, aquela da qual todos dependemos de uma forma ou de outra, já dá sinais de cansaço adicional e pouca reação, diante da tempestade perfeita que não mostra redução de intensidade, produto da incompetência gerencial governamental e sandice social.
Francamente, depois das sucessivas tragédias ambientais que têm ocorrido nesse lugar, onde, salvo engano, desconheço pessoa física responsável que esteja pagando por elas, percebo que estamos no fundo do poço.
No Rio de Janeiro, somos abastecidos por água, produto do tratamento de água de rio misturada com esgoto doméstico e industrial, e nada acontece desde 1999. E, ainda mais recentemente, vivemos a segunda crise da qualidade dessa água em um ano.
Todos os rios estão praticamente mortos; baías e lagoas em estado de putrefação variável, e bilhões em obras que não geram os resultados ambientais esperados … E nada, simplesmente nada, acontece.
Ninguém é investigado, ninguém é processado, ninguém é preso. Ninguém poderia ser um dos nomes que caracterizam esse lugar.
São promessas e mais promessas misturadas com estudos e mais estudos, projetos e mais projetos, papel por toda parte, dinheiro público escoando, não produzindo nada de concreto em termos de melhorias E a banda vai tocando lá fora!
Hoje, por acaso, com atraso de um ano, soube da morte de um conhecido da minha adolescência lá nos anos 80.
Talvez, sob o efeito dessa informação, minhas linhas pareçam amargas; contudo, elas expressam, principalmente, meu repúdio aos que, tendo a possibilidade de viver, de se preservarem para um breve futuro, desperdiçam a vida que meu conhecido perdeu.
Algumas sociedades aprendem com seus erros e progridem; outras repetem seus erros e perecem.
Já aconteceu antes e continuará acontecendo…
Descanse e continue dançando em sua jornada, prezado Isnard.