Se os exploradores que mapearam o Rio de Janeiro soubessem que mais tarde a palavra “ria” (sinônimo de baía) ia sumir do mapa, teriam batizado isto aqui logo de Baía de Janeiro. Aí teríamos dois estados da Bahia — a do Norte e a do Sul (ou, talvez, do Sudeste). O Fluminense jamais teria este nome — porque “flumine” quer dizer “rio”, em latim. Seria Sinusense (“sinus” é golfo, algo mais apropriado).
Se um certo clube de regatas do Rio de Janeiro — ops, Bahia do Sudeste —não tivesse sido fundado no ano em que se comemorava o quarto centenário da viagem de Vasco da Gama às Índias, poderíamos ter em São Januário o estádio do Fernão de Magalhães, do Bartolomeu Dias ou do Diogo Cão.
Se quem tivesse tentado invadir a Mui Leal e Heroica Cidade de São Sebastião da Bahia do Sudeste no século 16, a partir de uma bela praia carioca, não fosse o flamengo Olivier van Noort, talvez os rubro-negros hoje torcessem pelo Valão, pelo Brabante, pelo Utreque — outro tipo de invasor bastante provável.
Se João Pereira de Sousa não fosse o responsável pela artilharia do navio São João Batista, as terras que ele ocupou — contíguas à praia do parágrafo anterior — não se chamariam Botafogo, mas, talvez, Piloto, Prático, Grumete.
Imaginem o campeonato carioca disputado por Valão, Sinusense, Diogo Cão e Grumete.
Se na Assembleia Nacional francesa, os partidários do rei se sentassem atrás do presidente e os simpatizantes da revolução ficassem à frente, não estaríamos hoje sendo atazanados por essa peleja de direitistas e esquerdistas, mas por frentistas contra trasistas ou dianteiristas versus traseiristas.
Se Martin Waldseemüller tivesse pesquisado no gúgol, em 1507, saberia que quem descobriu este novo continente do lado de cá do Atlântico foi Cristóvão Colombo, não Américo Vespúcio. Teria batizado corretamente as novas terras e, assim, a (ainda) maior potência mundial seriam os Estados Unidos da Colômbia (o sucesso do Bruce Springsteen seria “Born in USC”). Do México para baixo seríamos (quase) todos latinocolombianos e a própria Colômbia viveria o paradoxo de estar situada na Colômbia do Sul. Ou talvez se chamasse América, vá saber.
(Incluam, por favor, o Colômbia disputando, mesmo que na segunda divisão, o campeonato carioca!).
Se Américo Vespúcio e Alonso de Ojedo não tivessem atentado para o detalhe de as casas nativas na costa de Maracaibo serem construídas sobre pilares de madeira (como eram as de Veneza) e reparassem nos telhados, nas janelas, nas chaminés ou em qualquer outro item, a Venezuela poderia ter sido denominada Florencela, Sienela ou Genovela.
Se Garcia e Caboto estivessem procurando enxofre, não prata, o Río de la Plata teria ganho o nome de Rio del Azufre e a terra do tango não se chamaria República Argentina, mas República Sulfurosa.
Se os portugueses tivessem se encantado pelo pau-ferro, não pelo pau-brasil, hoje seríamos ferreiros, nossa capital seria Ferrília e o refrão do hino nacional poderia ser “Dos filhos deste solo és mãe no berro / Pátria amada, ó Ferro”.
Se um gameta X do meu pai tivesse sido um pouco mais esperto que um Y, eu teria nascido Rita de Cássia. E se minha mãe tivesse tido contrações dois dias antes, eu teria sido do signo de Áries. Não são poucas as possibilidades de isso resultar numa traseirista, torcedora do Cão, impaciente, irritadiça, agressiva, teimosa, ansiosa e do tipo que jamais se submeteria à tortura da depilação.
Confessem que nunca tinham imaginado de quanta coisa este mundo escapou por pouco, muito pouco.