Quem nunca passou por uma conversa desgastante, aquela tentativa de diálogo em que cada um tenta expor seu ponto de vista, mas parece que o outro não ouve ou não entende? Digo que é uma tentativa de diálogo porque, na verdade, acaba sendo uma série de monólogos. Eu chamo esse tipo de interação de “conversa pingue-pongue”. Por quê? Porque cada um responde no automático, tentando mostrar que está certo, argumentando, contra-argumentando, eventualmente atacando o outro e tentando marcar o ponto para ganhar a partida.
O que acontece, na prática, é que aquele que prefere ser feliz a ter razão acaba engolindo o sapo e deixando o outro ter a última palavra. Contudo, no fundo, ninguém sai realmente satisfeito desse tipo de interação, pois a questão discutida, geralmente, não é resolvida. Cada um se sente incompreendido, e a tendência é que as conversas se tornem cada vez mais raras ou explosivas.
Como sair desse círculo vicioso e transformar os conflitos em diálogos construtivos? Ao longo dos 10 últimos anos, ensinando e praticando a Comunicação Não Violenta, tanto na vida pessoal como na profissional, pude observar que a abordagem que mais funciona, nesse tipo de situação, é a “reformulação”, ou seja, argumentar menos e perguntar mais.
Se você não concorda com o seu interlocutor, procure compreender primeiro, no lugar de expressar sua opinião com um contraponto. Somente depois de ter demonstrado um interesse genuíno em ouvir e compreender o ponto de vista do outro, poderá expressar o seu. Quando uma pessoa se sente realmente ouvida e compreendida, mostra-se muito mais aberta a ouvir opiniões diferentes da sua.
Por exemplo, imagine uma conversa entre dois sócios, e você é um deles.
Seu sócio: “Não faz sentido deixar o diretor comercial tirar alguns dias de férias neste período, enquanto não batemos a meta. Devemos sempre pôr os interesses da empresa antes dos interesses pessoais”.
Você não cai no jogo da conversa “pingue-pongue” e diz: “Não concordo contigo; ele está esgotado e precisa descansar um pouco para voltar a ser produtivo.”
Você também pode dizer: “Você acha que deixar o diretor comercial descansar alguns dias vai comprometer a meta do semestre. É isso?”
Seu sócio: “Claro! A gente precisa dele presente e que ele dê o melhor dele agora, mais do que nunca!”
Você: “Entendi. E como você acha que ele vai dar o melhor de si se falou que está esgotado?”
Seu sócio: “Não sei, vamos pensar e conversar com ele.”
Perceba que, quando você faz perguntas e não contra-argumenta, isso desarma o conflito quase instantaneamente; o outro não tem como brigar. Muitas vezes, se seu interlocutor está dizendo algo absurdo, isso vai “morrer” naturalmente, depois de fazer algumas perguntas usando a reformulação. É bom lembrar que a intenção de se conectar com o outro, compreendê-lo e demonstrar interesse em ouvir com empatia deve ser genuína. Essa é a abordagem mais potente que eu conheço para transformar conversas difíceis em diálogos construtivos e menos desgastantes. Mudou minha vida e a vida dos meus alunos e clientes, tanto na vida pessoal quanto na profissional. Experimente!