Outro dia, enquanto estava escrevendo o artigo da semana, percebi-me supondo que 2020 tinha sido um ano terrível ou, pelo menos, difícil para todos, porque só ouço pessoas reclamando dele. A quantidade de memes circulando e espalhando essa mesma ideia contribuiu também para influenciar meu julgamento. Com a percepção desse preconceito na minha cabeça, pude escrever de forma mais realista, levando em consideração que, para alguns, tinha sido provavelmente um ano “ruim” e para outros, um ano “bom”. Essa consciência despertou minha curiosidade e resolvi fazer uma enquete nas minhas redes sociais. O resultado me surpreendeu: 86% responderam que, para eles, 2020 foi um ano “bom”!
Isso me fez refletir.
Quantas vezes temos preconceitos e nos afastamos da realidade, na vida em geral e principalmente nas nossas relações? O psicólogo Marshall Rosenberg, pai da Comunicação Não Violenta, sugere perguntar em vez de supor – não assumir que a sua realidade seja a mesma que a do vizinho.
Procure abrir a sua mente e ser mais curioso para tentar compreender o que o outro está passando. Isso se chama “empatia”. Temos uma tendência de querer que o outro pense e sinta-se como nós e uma certa dificuldade em aceitar as diferenças de opinião. É assim que muitas brigas começam. Queremos que o outro seja igual, pense igual, faça igual, sinta-se igual. Contudo, essa forma de ver o mundo e as pessoas afasta-nos um do outro e alimenta a violência, seja sutil, seja extrema.
No Método Conecta, que eu criei para facilitar conversas difíceis, desenvolver a capacidade de empatia e melhorar relacionamentos, a curiosidade é o primeiro de sete passos. Como aplicar esse conceito na prática? Por exemplo, se um amigo me disser que o ano de 2020 foi péssimo para ele, em vez de responder com meu ponto de vista diferente, dizendo que para mim foi ótimo, uma abordagem mais construtiva seria perguntar, primeiro, por que foi péssimo para ele. Dessa forma, tento conectar-me com o mundo dele e, assim, conseguir compreendê-lo ao invés de julgá-lo. Conseguir colocar-se no lugar do outro exige a capacidade de estar presente, ouvir, deixar os preconceitos de lado e se conectar com o que o outro sente e precisa (o que chamo de “empatizar” no Método Conecta).
Se eu quiser que o outro me compreenda em vez de me julgar, posso trazer a responsabilidade para mim, expressando julgamentos como “bom”, “ruim”, “certo”, “errado” – que não trazem muita clareza para o meu interlocutor -, e descrever a situação, como me senti e quais necessidades foram satisfeitas ou não. Por exemplo, eu poderia dizer que “esse ano foi muito bom para mim porque passei mais tempo em casa, com minha cachorrinha, e evitei ficar horas no trânsito. Eu me senti mais tranquila e feliz em poder passar mais tempo com ela porque sei que ela não gosta de ficar sozinha, nem eu gosto de ficar longe dela”. Assim, aumento as chances de me fazer compreender.
É importante saber que nosso cérebro é programado para avaliar e julgar o tempo todo. Expressar-se com esse nível de consciência e clareza acaba exigindo mais energia e capacidade de presença, análise, elaboração, e sobretudo, capacidade de mostrar o exemplo e trazer a responsabilidade para si, de um diálogo mais construtivo, empático e respeitoso. Como diz o ditado, “a gente colhe o que planta”, ou seja, se não estiver disposto a plantar empatia, não vai colher empatia.
Desejo que 2021 seja um ano maravilhoso para você e sua família, e que todos tenham um máximo de necessidades satisfeitas!