O isolamento social provocado trouxe temas relacionados ao estresse e à depressão, assim como a importância de discuti-los. No entanto, há outro assunto sobre o qual precisamos falar: a compulsão alimentar, que faz parte dos neuropsíquicos que mais acometem a população.
É aquele comer descontrolado e, geralmente, em grandes quantidades, causando ganho de peso e sensação de culpa. Contudo, o que mais preocupa os profissionais de saúde do mundo são suas consequências para a qualidade de vida. A compulsão pode aumentar a obesidade, o diabetes, doenças cardíacas, como infarto e o aumento da pressão arterial, assim como piorar casos de ansiedade e de depressão.
Com a pandemia, a exposição ao estresse e ao confinamento tem aumentado exponencialmente os sintomas de ansiedade, assim como a predisposição genética ao comer compulsivo, que se expressa muitas vezes naquilo que conhecemos como “beliscar”. E isso pode levar às consequências de um comer não controlado.
Alguns de nossos pacientes relatam que já haviam conseguido controlar a rotina alimentar de forma saudável, mas, nesta fase, mesmo com a busca por alimentos mais saudáveis, percebem o aumento de peso e suas consequências na saúde.
A pipoca e o chocolate são os campeões na preferência do nosso público. Sim, como naquela canção, “o cheiro de pipoca tá rolando no ar”. Apesar de serem alimentos relativamente saudáveis, quando consumidos em excesso, também nos fazem engordar.
Outra situação que percebemos durante a pandemia é o home office. Tal medida nos protege, por um lado, uma vez que limita o convívio social, mas, por outro, torna a pessoa tão mais próxima do armário onde estão todas as deliciosas comidinhas. E é ali que mora o perigo – ou um dos perigos provocados pelo isolamento.
MC4R, FTO ou o CYFIP2 são genes relacionados à compulsão alimentar. Alguns dos nossos pacientes com polimorfismo nesses genes, que já haviam conseguido controlar a rotina alimentar de forma saudável, relatam estar com muita dificuldade nesta fase. Está sendo necessário ajustar as estratégias, cuidado com os excessos e suas consequências na saúde. E qual o caminho a seguir?
O consumo de fibras, como a glucomanana, e de compostos bioativos, como a quercertina, são armas importantes para lidar com esses genes. No entanto, cada caso é um caso – e tal resposta pode soar genérica, eu sei. Até há pouco tempo, as dietas eram prescritas levando-se em conta características como peso, altura e massa corporal. A ciência avança e nos traz ferramentas, como o exame genético, que vem ganhando espaço na mídia. Mas o que é, afinal? O exame genético vem revolucionando a medicina por mostrar as características genéticas de cada indivíduo e revelar, por exemplo, a predisposição para uma determinada doença. Ele é um aliado e tanto também para a nutrição clínica e funcional.
A ciência avança — e isso é ótimo —, mas a prudência ainda é uma aliada importante na briga contra o ganho de peso. Nesses tempos de confinamento, somos, como consumidores, tentados a usar o telefone ou a Internet como ferramenta de acesso rápido aos alimentos. E as condições e as ofertas são as mais variadas: vão desde a gratuidade do primeiro pedido ao apelo para que um determinado estabelecimento não feche suas portas. A praticidade pode facilitar a vida, é verdade, mas pode também motivar comportamentos de consumo exagerado de alimentos, sobretudo os ultraprocessados. Alguns exemplos? Batata frita, refrigerantes, biscoitos recheados e bebidas alcoólicas são alguns deles. Ficou com água na boca?
Esses alimentos podem ser apreciados, mas vale lembrar que a moderação pega muito bem: prevenir sustos no futuro. E que a surpresa com o peso acusado na balança seja o mais brando deles.
Fabiane Toste é nutricionista, formada pela UERJ, especialista em Terapia Nutricional Enteral e Parenteral pela Sta. Casa de Misericórdia do Rio. É mestre e doutora em Fisiopatologia Clínica e Experimental, ambas pela UERJ, e pós-doutora pela Universidade Federal Fluminense (UFF). É também sócia da Clínica Le Chantier, com a nutrigeneticista Adriana Bacelo e o médico Clévio Fonseca, no centro comercial Dimension Office Park, na Barra.
Foto: Dani Bardaró