Você já assistiu à “Emily In Paris”, da Netflix? A série trata de uma executiva americana (Emily) que consegue um trabalho temporário na França, em uma agência renomada na área de marketing de empresas de luxo. De maneira inventiva, jovial e muito criativa, a jovem acaba por trazer novas ideias para a empresa, que inova no marketing de uma série de marcas graças aos seus conselhos.
Por eu ser francesa, muitas pessoas vieram falar comigo para me estimular a assistir a essa série e saber o que eu achava a respeito. Eu tinha muita resistência em assistir, por dois motivos principais: primeiro, porque não tenho tempo sobrando; acabo não me permitindo parar por um tempo para ver seriados, por pensar que é tempo perdido e que tenho milhares de outras tarefas ou atividades mais importantes para fazer. Segundo, porque “Emily in Paris” retrata vários estereótipos dos franceses; eu achava que ia ficar irritada com a forma estereotipada de representação dos franceses e com alguns preconceitos que pudessem ser exagerados ou ultrapassados.
Acabei me rendendo… Um amigo meu que morou na França por um tempo assistiu e fez um post nas redes sociais dele, marcando o perfil da série. A curiosa que sou não aguentou e foi visitar o perfil. Logo, adorei todos os posts e me deu vontade de dedicar um tempo para assistir pelo menos, a um episódio. Decidi-me por isso no fim de semana passado, e me surpreendi: amei, viciei-me e acabei assistindo a oito episódios de uma vez só, junto com meu marido, que também ama Paris. Além de me divertir e gostar muito, encontrei muita relação com os assuntos e conteúdo que trabalho com meus alunos e clientes, no que diz respeito a conflitos, relacionamentos, assédio moral e sexual e jogos psicológicos – o famoso Triângulo Dramático de Karpman, uma das minhas especialidades e assunto preferido meu e dos meus mentorados.
Nessa série, Emily vivencia, por diversas vezes, situações de assédio no trabalho, mas lida com a situação de forma muito inteligente. A série mostra exatamente como podemos não nos deixar abalar e como romper esse ciclo de violência sem deixar o assédio acabar com a gente. Emily não se deixa intimidar pela chefe perseguidora e dá várias lições sobre como se defender sem entrar no jogo ou cair nas armadilhas que os outros fazem para ela e sem agredir de volta. Defende-se de forma sutil e não violenta.
Qual o segredo? Eu diria que tem três ingredientes essenciais para lidar com o assédio: lucidez, autoestima e apoios. Um dos colegas franceses acaba expressando que todos têm medo e se sentem ameaçados com a chegada dela à agência. Acredito que essa informação foi muito valiosa para a Emily; com isso, a percepção dela mudou. Muitas pessoas fazem assédio exatamente porque se sentem inseguras – que nem os cachorros amedrontados que ficam latindo ou mordendo em função do medo. Perceber a vulnerabilidade do outro, através da empatia, para compreender suas atitudes, pode ser o ponto de partida para resolver uma situação de assédio. Pois um dos erros mais comuns, é entrar no jogo e se submeter ou agredir de volta.
A protagonista da série tem clareza que a chefe não gosta dela e não fica se sentindo mal por isso. Não gasta a energia dela remoendo, nem perde o moral ou a autoestima por isso. Emily coloca toda a energia dela para encontrar soluções cada vez mais impactantes, fazer um bom trabalho e gerar resultados para a agência e os clientes. Ela foca na solução, não no problema. Além disso, cria várias amizades e cumplicidade com pessoas que a ajudam a lidar com várias situações delicadas. Apoio emocional, nesse caso, é tudo.
A menina se mostra muito corajosa, franca, direta e não tem medo de abordar assuntos sensíveis nem de expressar quando se sente incomodada com atitudes inapropriadas. Supera o sentimento de vergonha, muitas vezes, para se posicionar com brio e se fazer respeitar. Não fica presa ao medo. Conversas difíceis necessitam ter coragem, além de habilidade relacional, inteligência emocional e uma comunicação assertiva — nem agressiva, nem submissa. Uma comunicação clara, empática, objetiva, factual, isenta de críticas e julgamentos. O que eu chamo, nas minhas aulas, de “PAC” — Posicionamento Assertivo e Construtivo”.
Com tempo e perseverança, Emily acaba conquistando o lugar dela e o reconhecimento de todos. Se tiver curiosidade, assista! Acaba sendo uma forma excelente de aprender de forma leve e divertida. Depois me conte, lá no meu Instagram.