Se o Dia de Finados (02/11) já é estranho para muita gente, imagina para os “finados da pandemia”? Até agora, foram 160 mil mortes pela Covid-19 no Brasil, e as pessoas tiveram que aprender uma nova maneira de se despedir. “Temos um luto coletivo de várias famílias que tiveram alguma perda para a Covid-19. Além disso, não podemos nos esquecer das pessoas que perderam conhecidos e parentes durante a pandemia, sem ser pelo coronavírus, e também precisaram restringir as homenagens e se adaptarem a esse luto diferente”, diz a psicanalista Maria Francisca Mauro.
Segundo uma pesquisa do movimento InFinito, que trata de assuntos sobre a vida e a morte, estima-se que, para cada pessoa que morreu, há de 4 a 10 enlutadas. “A falta desse ritual de antes e depois da morte pode fazer com que o processo de luto se dê de uma forma diferente. Algumas famílias se viram devastadas; outras viveram a experiência de ter, entre o agravamento clínico e o desfecho fatal do seu parente, uma impossibilidade de acompanhar a transição e foram confrontadas por uma morte sem ritual de despedida, o que compromete a elaboração quanto à perda”, diz Maria Francisca.
Uma ideia a que muita gente aderiu foi a campanha nacional da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB): foi pedido aos católicos que aproveitassem o dia para plantar uma árvore em homenagem aos mortos na pandemia. Dom Orani Tempesta, arcebispo do Rio, rezou uma missa nesta segunda (02/11), no Crematório da Penitência, no Caju, em homenagem aos cientistas que buscam uma cura para a Covid-19.
“Missas e cultos virtuais podem prejudicar o luto de alguns, coloca certa distância entre a pessoa e o ritual, adiando que alguém chegue à fase de significação da perda. Acho bonita e acolhedora a solidariedade aos parentes das vítimas nas plataformas digitais, criando uma sensação de apoio coletivo. O importante é não banalizar a morte dentro desse contexto”, explica a psicanalista, comentando sobre o site Inumeráveis, que faz homenagem às vítimas num painel virtual.