No primeiro momento da quarentena, eu pifei. Dei tilt. Minha cabeça ficou completamente oca, eu não conseguia escrever nada (logo eu, que só penso em escrever!). Quem me tirou das trevas foi a Vicenza — protagonista interpretada pela Maísa no filme que vai estrear na Netflix e deu origem a “Pai em Dobro”, o livro que estou lançando agora — e sua busca pelo pai.
Terminamos de rodar o longa em janeiro, com direito a aglomeração em bloco de carnaval fictício e happy hour depois das filmagens, num tempo em que beijo, abraço e uma tossezinha não davam medo em ninguém. “Pai em Dobro” foi a primeira história que nasceu filme na minha cabeça, justamente no ano em que comemoro duas décadas de carreira. Não tinha como não lançar um livro com todo o resto que não coube nos 90 minutos do filme, né?
Para isso, eu precisei inventar a história pregressa dos personagens, descrevê-los (pensando em cada ator que deu vida a eles no filme, e foi demais isso!), aumentar diálogos, criar lugares e situações exclusivamente para o livro. Escrever, enfim. Era tudo o que eu precisava naquele momento esquisito. Foi muito importante ter um trabalho tão diferente e inusitado naqueles meses tortos. Muito. Foi terapêutico. Ele me salvou e salvou meus dias em diversos momentos. Eu daria meu mundo por um abraço apertado, e foi isso o que os personagens fizeram comigo.
Para completar a magia, “Pai em Dobro” sela minha volta à Rocco, editora que apostou em mim lá atrás, acolhendo-me com todo o carinho, há 17 anos, e onde sou tão feliz. Um projeto tão especial, inédito e transformador só podia ser com eles.
A pandemia me levou a fazer alguns balanços, e um deles foi muito bom, pois entendi que muita gente cresceu comigo, que minhas histórias estão aí há muito tempo, fazendo parte da história de várias pessoas. Num momento de instabilidade como o que estamos vivendo, em que estamos tão vulneráveis, chegar a essa conclusão me emocionou, assim como a rede de apoio que me socorreu nos momentos de pranto, carência, angústia. Eu tenho os melhores amigos do mundo e, se minha saúde mental segue em dia, devo isso a eles e à minha terapeuta, claro. Esse coronga veio mostrar pra gente o que realmente vale a pena, quem vale a pena.
E, quem diria, a turnê que estava programada para o lançamento e a comemoração dos meus 20 anos de carreira não pôde acontecer. Os abraços nos leitores que me acompanham há tanto tempo também vão ter que esperar essa loucura passar. Mas sei que, quando tudo isso acabar, é o que mais vamos fazer: abraçar. Só não me venham com abraço chocho. Quero aperto, quero carinho, quero vontade, quero amor. É sobre amor o livro que estou lançando: amor de pai. É, eu me sentia meio em dívida com eles; agora, não mais. Espero, de verdade, que vocês leiam o livro e vejam o filme. É pra chorar, é pra rir, é pra fazer bem.
Thalita Rebouças é escritora, é jornalista, é carioca, é alegre. Quando criança, ela se denominava “fazedora de livros”, já brincando com o que viria a ser a coisa mais importante de sua vida: a literatura. Tem mais de 20 livros publicados e mais de 2 milhões vendidos. Nem ela escapa dos adolescentes, nem os adolescentes escapam dela. Neste domingo (22/11), Thalita vai fazer uma live em sua página, no Instagram @thalitareboucas, às 11:30, lendo trechos e respondendo a perguntas.