Foi um domingo de sol, dia das eleições do primeiro turno. Eu e Diogo, meu marido, saímos para votar. A minha sessão estava bem vazia; a dele, lotada e com muita gente sem máscara. Passaram-se 48 horas, e pow! Diogo aparece com sintomas da Covid. Fomos fazer exames.
Percorremos a cidade para fazer o PCR de forma rápida. O panorama da testagem foi assustador: filas e mais filas. Os preços desses exames, que deveriam ser gratuitos, saíam entre R$ 100 e R$ 750. Nossos planos de saúde – Bradesco, Amil e Assim (sim, eu tenho dois planos!) – não davam cobertura para o exame urgente; só em hospital, e eu não queria ir para hospital.
Diogo testou positivo e eu, negativo. Nosso médico, José Fernandes Vilas, nos primeiros sintomas, antes dos exames, passa os protocolos. Seguimos à risca o que a comunidade científica internacional determina como tratamento. Ele teve muita dor no corpo (muita!), febre e dor de cabeça (coisa que ele nunca tinha tido). Decretamos nosso isolamento.
Passamos a falar diretamente com nossas mães por Facetime e a receber uma enxurrada de amor diariamente. Fiquei em casa, cuidando dele, tirando temperatura, pressão arterial e medindo a oxigenação do sangue, seguindo o que os médicos me solicitavam. Vivi meus dias com o pensamento: se tiver que pegar a Covid, vou pegar, mas não vou deixá-lo sozinho.
Quando chegamos ao oitavo dia, novos exames. José Henrique Pilotto, um dos maiores pesquisadores de vírus deste País, pesquisador da Fiocruz, do Instituto Pasteur, pediu novos exames para verificação de níveis de infecção para proteção contra trombose, uma das principais mazelas observadas como efeito colateral do vírus.
Chegamos ao 11º dia. Diogo está abatido, mas bem melhor. Eu continuo sem sintomas; talvez eu tenha a chamada imunidade cruzada. E talvez o santo consomê de rã que tomo desde 2005, diariamente, tenha me dado uma forcinha neste momento. Enfim, não deixei de dormir um dia ao lado dele nem de abraçá-lo quando ele se sentiu mais frágil. E estou aqui. Entendo, hoje mais do que nunca, que a maior mensagem que temos neste momento é que estamos aqui para aprender que o mais lindo da vida é cuidar de quem amamos.
Bruno Chateaubriand é jornalista, presidente da Federação de Ginástica do Rio e colunista da “Veja Rio”.