Em novembro de 2014, enquanto eu atuava como coach de saúde e bem-estar, recebi, no meu escritório, uma mulher de 28 anos que trabalhava em uma multinacional, extremamente comprometida, dedicada e determinada em ser uma profissional reconhecida e bem-sucedida. Vou chamá-la de Renata, para não expor a sua identidade.
Renata tinha acabado de fazer exames médicos, que a diagnosticaram com um altíssimo nível de estresse e outros problemas de saúde: ansiedade no topo, crises de pânico recentes e cada vez mais frequentes, insônia, sedentarismo, dieta pouco saudável, dificuldade para raciocinar e organizar determinadas situações e pouca consciência da gravidade desses sintomas.
Percebi que ela estava à beira da estafa e que, se não mudasse imediatamente seu estilo de vida, poderia ter um burnout (apagão) em qualquer momento. Quando lhe falei isso, a primeira reação — absolutamente normal e muito comum — foi a negação. Para muitas pessoas, pode ser extremamente difícil reconhecer e admitir os limites do corpo e da mente.
Então apliquei a metodologia que aprendi com professores e psicólogos de Harvard, e aos poucos, Renata se entregou. Com o apoio, em paralelo, de um médico psiquiatra, principalmente para a parte de medicação, conseguimos avançar e reverter esses sintomas. Confesso que fiquei chocada em perceber um quadro tão grave em uma profissional tão jovem. Levei a situação muito a sério, pois, dois anos mais cedo, o colega e amigo de um dos meus clientes faleceu de um infarto fulminante, com apenas 31 anos de idade, no quarto do hotel onde estava hospedado a trabalho.
Este ano, fui pega de surpresa e mais chocada ainda, pois desta vez, foi uma mulher de 25 anos que me procurou, estava se sentindo no limite. Depois de ajudá-la a sair de uma situação de assédio que durava há dois anos, percebi que ela estava tendo um burnout. Não estava mais conseguindo realizar normalmente suas tarefas, não estava conseguindo dormir e estava se sentindo cada vez mais depressiva e com autoestima muito abalada. Com a ajuda, novamente, de um médico, conseguimos reverter esse quadro.
O que foi crucial, na minha metodologia, além das ferramentas e técnicas de Coaching e Mentoria, foi a Comunicação Não Violenta (CNV), tanto nas dimensões intrapessoal como interpessoal. Ambas as profissionais precisaram se conectar com seus próprios sentimentos e suas próprias necessidades (autoempatia) e, ao mesmo tempo, verbalizá-los — tanto para mim, quanto para seu chefe no trabalho.
Esse processo de autoempatia é que pode salvar vidas. O próprio Michael Phelps — nadador americano que conquistou 37 recordes mundiais e o maior número de medalhas de ouro olímpicas em uma única edição — afirmou, durante uma palestra dele, a que assisti em 2017, que aprender a nomear sentimentos foi o que o salvou e o tirou da depressão e das drogas pesadas que estava consumindo.
Desde a pequena infância, as crianças estão sendo educadas para se desconectarem das suas emoções e das suas dores. Muito pais bem-intencionados fazem o possível para que os filhos não sofram, não fiquem frustrados, não sintam raiva, e quando os filhos sentem e expressam tristeza ou raiva, essas emoções costumam ser imediatamente reprimidas: “Engole o choro!”; “Menino forte não chora!”; “Que isso?! É muito feio gritar!”; “Que birra é essa! Para de fazer isso agora!”; “Não fique triste, já passou”. Todas essas frases são demonstração de falta de empatia e de capacidade em lidar com as emoções, próprias e do outro. E assim, os jovens crescem e se tornam adultos desconectados dos próprios sentimentos e analfabetos quando se trata de expressar o que sentem e o que precisam.
Felizmente, o psicólogo americano Marshall Rosenberg, pai da Comunicação Não Violenta, deixou um legado, ensinando, através de ferramentas simples, como a lista de sentimentos e necessidades, a desenvolver esse vocabulário. Poder dizer “eu me sinto triste porque gostaria de ter mais reconhecimento por tudo que estou fazendo”, ou ainda “fico com raiva quando meu chefe me chama de burro porque preciso de respeito e consideração”, acaba gerando uma sensação de alívio enorme no cérebro, pois essa carga emocional está sendo colocada para fora, e não reprimida e guardada.
Mesmo que a sensação imediata possa ser de intensificação da emoção, é fundamental aprender a identificar, nomear e verbalizar emoções, sentimentos e necessidades. Experimente! Sua saúde (emocional e mental) agradecerá!