“Como lidar com uma pessoa violenta sem ser violento nem submisso?” “Como agir quando o outro está me agredindo ou agredindo outra pessoa sem agredir de volta?” Muitas pessoas me fazem essas perguntas com certa frequência. Entendo que não seja fácil saber como agir em situações desse tipo. Segundo Marshall Rosenberg, pai da Comunicação Não Violenta (CNV), quando duas partes em desacordo estão tendo a oportunidade de expressar plenamente os fatos, o que estão sentindo, quais são suas necessidades e o que gostariam que o outro fizesse para resolver o conflito, é possível chegar a uma solução satisfatória para ambas, na maioria do casos.
Às vezes, faz-se necessário ter o apoio de um terceiro para facilitar o diálogo. Entretanto, em determinadas situações, pode não existir a possibilidade de diálogo, quando nos encontramos diante de um perigo iminente, ameaçando nossa integridade física, nossa vida ou a de um terceiro. Em situações como essas, o uso da força torna-se necessário para evitar danos decorrentes da agressão física.
A intenção deve ser apenas conter, no sentido de proteger, não de punir ou de fazer o outro sofrer. Quantas vezes observamos cenas nos noticiários, como essa que envolveu seguranças de um supermercado, batendo, espancando, até a morte, um indivíduo violento, em vez de procurar neutralizá-lo? A realidade é que o castigo físico ainda é bastante valorizado pela opinião pública, independentemente do contexto. A punição é parte integrante da nossa cultura. A maioria das crianças são educadas seguindo o modelo de recompensa e punição.
Pessoalmente, antes de ler o livro de CNV, nunca tinha imaginado que a punição pudesse ter consequências negativas e até estimular comportamentos ainda mais violentos nas pessoas. Depois, passei a refletir e observar, de fato, vários indivíduos tornando-se cada vez mais revoltados e violentos depois de ser punidos. Isso não significa que não deve haver consequências para comportamentos inadequados. O que quero dizer é que já ouvi tantas mães e tantos pais, principalmente de adolescentes, desesperados depois de ter dado todos os castigos possíveis. “Já tirei tudo dele: mesada, computador, celular; até cheguei a bater porque não sei mais o que fazer!”
O último caso foi de uma mulher recém-divorciada, mãe de um adolescente de 12 anos. Ela queria aprender a CNV porque não suportava mais brigar com o filho e ser desrespeitada. Percebia que a violência entre eles estava em uma espiral crescente e que isso não estava adiantando nada, apenas os desgastando e desgastando a sua relação com “a pessoa mais importante da vida dela”. Depois de entender o contexto, ficou muito claro para mim que o filho estava sofrendo muito em função da separação dos pais e que ele precisava de empatia, e não de castigos.
Ouvindo e acolhendo as dores da mãe, pude ajudá-la a se colocar no lugar do filho e compreender seus sentimentos e necessidades. Ele estava extremamente triste e revoltado ao mesmo tempo, porque não entendia e não aceitava o divórcio dos pais. A falta de empatia e de acolhimento deles só alimentava a raiva e a agressividade do filho, porque ele não se sentia compreendido.
Quando chorava e reclamava da separação, ouvia frases, tais como: “Você tem que aceitar”; “Pare de chorar, você tem tudo, tem crianças que não têm nem o que comer”; “Você é sensível demais, tem que superar, têm coisas muito piores na vida e muitos casais se separam, isso acontece”. Quando uma pessoa chora e reclama, geralmente, ela precisa de empatia. O que isso significa na prática? Significa que precisa sentir-se ouvida, compreendida, que suas emoções sejam acolhidas, no lugar de ser julgada, ouvir conselhos ou qualquer tipo de comentário que não tenha por intenção de entender e respeitar seus sentimentos e suas necessidades do momento. Se seu filho está triste, evite dizer frases como: “Não chore”; “Não fique triste”; “Você não deveria se sentir assim”… Se ele está com raiva, gritar com ele e colocá-lo de castigo não vão resolver o problema de fundo; é preciso entender o que tem por trás dessa raiva.
Cada indivíduo pode reagir de forma diferente, mas, basicamente, tem duas reações possíveis diante da falta de empatia e de uma punição: a submissão – que pode levar a uma tristeza profunda quando associada a uma sensação de incompreensão e injustiça – ou a agressão, estimulada pelo sentimento de raiva e revolta. O que fazer, então, quando o outro está agredindo? Na maioria das vezes, procurar compreender e ouvir acalma o sentimento de raiva e desarma a agressividade.
Entretanto, a falta de respeito deve ser sinalizada e não ser aceita, para não se repetir nem crescer. É fundamental estabelecer limites claros e sinalizar quando esses limites são ultrapassados. No caso dessa mãe com seu filho adolescente, a empatia ajudou muito a diminuir a agressividade dele. Quanto aos castigos, foram substituídos por consequências, escolhidas pelo próprio filho, através de um contrato redigido e assinado por ambos. Hoje, a relação está bem melhor. A intenção deve ser conter, neutralizar e desarmar a violência, não gerar sofrimento de volta.