Com o surgimento da Covid-19, de uma hora para outra, as pessoas ficaram confinadas em suas casas, tornaram-se sedentárias e passaram a se alimentar mais e pior, além de beber mais. As doenças crônicas começam a emergir. Se a pandemia gerada pelo novo coronavírus matou mais de 1 milhão de pessoas no mundo até esse momento, as doenças crônicas, durante esse mesmo período, já produziu a baixa de mais de 10 milhões de indivíduos por infarto agudo do miocárdio e 9 milhões por câncer. A saúde mental da população também se fragilizou enormemente. Níveis de estresse elevados, ansiedade, pânico, burnout, depressão e suicídio explodiram — é tempo de prevenção.
Durante o início da pandemia, fechamos os 15 primeiros dias para adequar nossas clínicas ao novo momento e, como atividade essencial, desde abril, retomamos nossas atividades. Durante esse período, cumprimos uma série de tarefas na MedRio Check-up adequadas à nova realidade de mercado. Implementamos treinamentos em nossas equipes, adaptamos nossos trabalhos à Lei Geral de Proteção de Dados, à segurança cibernética e transformamos nossas clínicas em clínicas digitais.
Sofisticamos cada área de nossos serviços, inclusive o café da manhã e o lanche organizados por Roland Villard. Fizemos novas contratações. Neste momento, estamos concluindo nosso quarto livro, intitulado “Saúde é Prevenção”, enriquecendo com nossos conhecimentos sobre a pandemia.
Durante este período de isolamento, observei nos nossos clientes algumas alterações metabólicas importantes, assim como alterações na saúde emocional: entre abril e setembro de 2019, atendemos 6 mil indivíduos e, comparativamente ao mesmo período de 2020, observamos:
2019 2020
Insônia 18% 35%
Hipertensão Arterial 21% 38%
Colesterol – LDL 48% 69%
Níveis de estresse elevados 65% 79%
Esteatose hepática 31% 48%
Excesso de peso corporal 67% 80%
Sedentarismo 52% 75%
Os níveis de estresse aumentaram muito. O estresse nada mais é do que a nossa necessidade em nos adaptar às mudanças. Como as mudanças foram profundas e rápidas, ele disparou. Os hormônios gerados pelo estresse (adrenalina e cortisol) são os motores para o estilo de vida inadequado. As pessoas passaram a se alimentar mais e pior, a ingerir mais bebidas alcoólicas e a dormir mal.
Não raro, temos observado em nossas clínicas indivíduos jovens com importantes alterações em suas coronárias. O câncer deverá ter um grande acréscimo durante a pandemia, em função do medo das pessoas em se deslocarem de suas casas para a realização de exames médicos preventivos.
Observamos também que dois dados fundamentais fazem a diferença durante a pandemia: a idade mais as comorbidades. As comorbidades nada mais são do que as doenças crônicas, doenças silenciosas de longa duração e das pessoas não se dão conta (diabetes, hipertensão arterial, câncer, doenças autoimunes…).
Assim, em face dos percentuais acima demonstrados, as doenças crônicas tendem a ser a nova pandemia dentro da pandemia do coronavírus. O melhor remédio para as doenças crônicas é o estilo de vida saudável, isto é, alimentar-se equilibradamente (reduzindo o álcool, sal, açucarados e farináceos), manter uma atividade física aeróbica regular e sono de qualidade. É momento de se colocar vida na saúde das pessoas.
Gilberto Ururahy é diretor médico da MedRio check-up, com atuação em Medicina Preventiva, na profissão há 40 anos. Recebeu, em 2017, a Ordem Nacional do Mérito da França. É chamado por alguns de “embaixador da amizade franco-brasileira”.