Tenho saudades de dois Leblons que não existem mais: um eu conheci; outro, não. Meu conhecido Leblon das décadas de 70 e 80 também tinha noitadas, e bem badaladas. Quem não se lembra do RÁ, Pizzaria Guanabara e Diagonal? Mas existia o Leblon verdadeiramente da gastronomia, quando as vedetes não eram os bares, e sim os excelentes restaurantes.
As noitadas promoviam encontros de intelectuais, artistas em geral e mortais quaisquer, quando as pessoas somavam, conversavam, trocavam ideias e discutiam ideais… Quem consegue somar ou compartilhar conhecimento sob o som ensurdecedor dos grupos de pagode, de músicas bate-estacas nas calçadas, acompanhados de um chope?
Tive notícia de um grupo de moradores que estaria se organizando para fazer uma representação no Ministério Público, através de abaixo-assinado, pedindo que a instituição cobre providências da prefeitura contra a desordem estabelecida nos fins de semana. Acho difícil que encontrem solução por esse caminho. Primeiramente, porque o morador do Leblon em geral busca soluções mágicas e, pela minha experiência de 28 anos militando como representante de moradores e comerciantes do Leblon, eles não têm iniciativas trabalhosas como essa, e fazer abaixo-assinado dá trabalho. Tomara que eu morda a língua.
Em segundo lugar, combinemos que o MP tem assuntos mais prioritários do que esse. De qualquer forma, a AmaLeblon sempre foi pró-ativa, mas busca solução de quem tem obrigação, competência legal e legítima para atuar. Além das constantes operações de ordem pública com a SEOP, que estão ocorrendo há, pelo menos, um mês, nos fins de semana, conseguimos o compromisso da Subsecretaria de Estado para Assuntos Estratégicos a ampliação do horário da operação Leblon Presente até a meia-noite, especialmente de quarta a domingo, em vez de encerrarem às 20h, como é atualmente.
O episódio que ficou marcado por mim como o “das bundas de fora” — o desfile das duas moças de biquíni, aos beijos com o motorista e entre si, no banco traseiro de um carro sem capô, todos sem máscara, fora de qualquer contexto que justificasse aquela exposição, desnecessária, sem noção, quase que mandando um “danem-se vocês, moradores do Leblon, estamos aqui pra compartilhar a bagunça” — foi a gota d’água pra justificar a cobrança contundente que fazemos aos órgãos públicos para que atuem energicamente contra as irregularidades cometidas não só na Rua Dias Ferreira como também em vários pontos do Leblon noturno e não só, pelos ambulantes, assim como pelos bares, que insistem em vender bebida ao cliente nas calçadas, o que é proibido, e pelos frequentadores, que não respeitam as regras estabelecidas em consequência da pandemia, ficam aos berros nas ruas, ignorando os moradores e institucionalizando o caos com a ocupação das calçadas como se fossem a área de lazer das suas casas.
É com muita tristeza que eu testemunho o comportamento hostil e sem empatia com o próximo, das últimas gerações, que certamente se faz presente nas circunstâncias em questão. A omissão, inércia ou impotência dos órgãos competentes leva a perda total de controle sobre a ordem urbana. Foi uma cena fora de qualquer contexto que justificasse aquela exposição, desnecessária, sem noção, quase que mandando um “danem-se vocês, moradores do Leblon, estamos aqui pra compartilhar a bagunça.”
Evelyn Rosenzweig é advogada, carioca de Copacabana, moradora do Leblon há 42 anos. É presidente da AmaLeblon e da Associação Comercial do Leblon há 26 anos. No bairro, não há quem não saiba quem é a “xerifa do Leblon”.