Um pouco mais de um ano atrás, fui convidada a dar uma palestra sobre “Comunicação Não Violenta e Ética” e falar de assédio, com um público corporativo. Apesar de ser um tema extremamente relevante pelo fato de ser muito mais comum do que imaginamos, ainda é muito tabu, tanto nas empresas quanto na sociedade em geral. À época, fui pesquisar sobre o assunto e deparei com dados impactantes, por exemplo, uma pesquisa indicava que mais da metade dos profissionais já tinham sofrido assédio no trabalho; outra apontava que 95% das mulheres já tinham sofrido assédio em locais públicos.
Como costumo compartilhar experiências próprias nas minhas palestras, decidi fazer uma retrospectiva da minha vida para tentar identificar se eu já tinha passado por isso também. Foi, nesse momento, que a ficha caiu e me dei conta de que eu tinha sofrido assédio de alguma forma, desde os meus 12 anos de idade, no transporte público na França e em todas as empresas onde trabalhei durante 18 anos.
Ao mesmo tempo em que eu ficava muito incomodada e com raiva quando um homem tinha uma atitude inapropriada comigo, eu não sabia como lidar. Eu ficava muito constrangida, com vergonha e medo de reagir. Eu nem imaginava que isso tinha um nome e, pior ainda, que isso era um crime. Como a grande maioria das meninas e das mulheres, eu simplesmente buscava evitar, ignorar e ficava calada. Não falava disso com ninguém, achando que era normal e que eu deveria saber defender-me sozinha, ou que eu ia ser culpada e acusada de ter provocado isso de alguma maneira.
Em função dessa situação, comecei a não me valorizar para não chamar atenção dos homens nem despertar ciúmes das mulheres, que também fizeram bullying comigo. Já fui demitida, com vinte e poucos anos, porque uma colega estava com ciúmes e começou a espalhar fofocas sobre mim, para que a mulher do dono da empresa me mandasse embora. Fui demitida injustamente. O que eu fiz com isso? Nada. Engoli o sapo e segui em frente, procurando um novo emprego. Para quem eu ia me queixar? Quem ia me ajudar? A sensação é que ninguém quer se meter, e a grande maioria dos casos são ignorados ou abafados.
Essa semana, antes de falar desse tema novamente, desta vez, para gestores de uma grande empresa, refiz uma pesquisa buscando dados mais recentes e encontrei uma matéria no G1 indicando que “quase metade das mulheres já sofreu assédio sexual no trabalho; 15% delas pediram demissão”, e que “o assédio sexual atinge mais negras e mulheres com rendimentos menores; apenas 5% delas recorrem ao RH das empresas para reportar o caso”.
Considerando que 85% do meu público nas redes sociais é feminino, fiquei curiosa e resolvi postar uma enquete no meu Instagram. Perguntei a quem estava me assistindo se já tinha sofrido assédio. O resultado foi surpreendente: 76% das votantes responderam que sim e 82% disseram que nunca foi falado sobre assédio na sua empresa.
Três meses atrás, uma profissional de 25 anos me procurou para ajudá-la a sair de uma situação insuportável no trabalho. Ela não estava consciente de que, na realidade, estava sendo vítima de assédio de um colega há dois anos. Com menos de duas horas de preparação para ter uma conversa com o chefe, ela conseguiu se fazer ouvir e acabar com a situação, mantendo o seu emprego e ainda ganhando elogios e respeito do chefe.
Espero que essa história possa servir de inspiração e esperança para muitas mulheres. Qual minha intenção? Despertar a consciência das vítimas que sofrem bullying ou assédio de que é possível sair disso com ajuda de pessoas competentes e de confiança. Gostaria também de conscientizar as lideranças de que precisam fazer algo a respeito, e que tudo começa com a conscientização e a educação.