Foram dias difíceis. Estava acostumada a conviver, todo mês, com cerca de 6 mil pessoas felizes da vida, divertindo-se a valer. De uma hora pra outra, estava cercada apenas por quatro: marido e filhas. Se, por um lado, foi bom porque nos aproximou ainda mais, por outro, trouxe ansiedade, preocupação, medo e insegurança. E agora? E aquela alegria toda? Não, não podia deixar contaminar-me com o vírus nem com a desesperança.
Incrível a capacidade que temos, nessas horas, de levantar a cabeça e recompor-nos. Nem eu sabia… rs. Mas foi o que eu fiz. Criei novos eventos com capacidade reduzida, criativos e sedutores, convidando crianças e suas famílias a participar de oficinas de pintura, capoeira, mágica, dança, yoga e até piqueniques, aproveitando a natureza da minha casa de festas, a Goiabeira. Eu reinventei. Claro, sempre cercada de todo o cuidado.
O resultado? Sucesso absoluto. Melhor ainda, fiz um vídeo institucional e levei ao Comitê de Crise, no Riocentro, com a ajuda do “brother” Alexandre Zibemberg, e contei a história minha e das 250 ou 300 casas de festas que existem no Rio. Fui a primeira a criar protocolo pra mostrar que a gente consegue brincar e operar com segurança.
Dias depois, pararam cinco carros da Prefeitura, com 20 homens na minha porta, agentes da Vigilância Sanitária. A inspeção foi grande; fizeram todos os testes. Mostramos os resultados seguros e promissores dos pequenos eventos desencadeados e pleiteamos a antecipação da abertura das casas de festas. Quase congelei — kkkkk. Brincadeiras à parte, fomos aprovados com louvor (nossos protocolos e instalações) e… bingoooo!
A abertura das casas de festas aconteceu desde esta terça (01/09) — uma antecipação essencial para esse mercado que foi um dos primeiros a suspender suas atividades, e ainda para milhares de famílias que dependem desses estabelecimentos para trabalhar e sobreviver. Os empresários do setor, a criançada, os papais e mamães e todo mundo que não abre mão de ser feliz agradecem. Sabe o que a gente vai fazer pra comemorar? Muitas festas. A primeira, então, é especial. Estamos reunindo, neste sábado, famílias de crianças autistas para uma oficina de argila — um evento inclusivo e aberto para todas as crianças. Isso porque, pra fazer a diferença, o primeiro passo, é acabar com ela.
Roberta Haddad Niemeyer é empresária, sócia e idealizadora do Goiabeira Coisa e Tal, a casa de festas infantis mais conhecida do Rio, na Barra. Ela contribuiu para a liberação do funcionamento das casas de festas infantis.