A pandemia, na minha vida, aconteceu de várias formas. Uma das coisas que me pegaram de surpresa é que eu tava me preparando para lançar um disco, depois de passar o final de 2019, tentando descobrir como eu iria lançá-lo: se seria com alguma gravadora, alguma agregadora; aí, depois, decidi lançar pelos meus próprios meios. Comecei a montar uma equipe para fazer isso.
Quando estava tudo pronto, veio a pandemia, tanto que o último dia em que saí de casa, antes do isolamento, foi justamente o que fui e voltei de São Paulo para gravar o clipe da primeira música, que se chama “Pergunta urgente”. Depois disso, fiquei em casa durante meses; o máximo que eu fazia era descer até o estúdio, que é a uma rua da minha casa. Basicamente, minha pandemia ficou nesse vaivém, até que, em junho, pintou de eu fazer uma live com meu filho.
Já estávamos em isolamento em casa — eu, minha mulher Alice (Pellegatti), meus filhos, Júlia e Rafael. Então, a gente acabou fazendo um arranjo do meu repertório, nós dois; ele tocando vários instrumentos, teclado, guitarra, violão, e eu na guitarra e no violão. E assim fizemos mais lives. Depois disso, resolvi vir pra Serra; achei que era bom dar espaço para meus filhos em casa também.
Foi muito bacana porque, no começo, exatamente dois dias antes do isolamento, eu adotei uma cadelinha nova, a Colombina, já que eu tinha perdido o meu labrador querido e amado, completamente e desesperadamente amado, no final do ano. Aí peguei essa vira-lata num abrigo, para fazer companhia à outra mestiça que eu já tenho, a Milu. Elas adoram. Aqui não é uma casa muito grande, mas tem jardim. Podemos, todos os dias, dar um passeio por um lugar aberto — é muito gostoso. É onde eu me mantenho agora.
Para algum eventual trabalho que apareça, posso descer e fazer, é perto, e fico aqui bem mais tranquilo. Posso dar umas caminhadas ao ar livre. O Rio está com uma adrenalina muito pesada: uma dissintonia entre as pessoas que respeitam o isolamento e as que não respeitam, e também uma falta de coerência entre os poderes instruídos de dizer qual é o comando a ser seguido. Preferimos nos afastar, e estou feliz e tranquilo aqui, na Serra, por enquanto.
Roberto Frejat é um artista da música: cantor, compositor, produtor e guitarrista. Grande parceiro e amigo de Cazuza no começo da banda Barão Vermelho.
Foto: Leo Aversa