Trabalho com aglomeração de pessoas: festas, grandes eventos, shows, espetáculos teatrais, pré-estreias, organização de casamentos… Tenho feito eventos online, organizado lives, trabalhado com assessoria de imprensa, ativação de marcas, fechado contratos publicitários… ou seja, estou tentando não parar, criando oportunidades de trabalho.
Fui obrigada a me reformular, digamos assim! Assim como fiz nos anos 90, no governo Collor, quando deixei de produzir filmes por conta do ‘apagão’ do cinema brasileiro com a extinção da Embrafilme, me recriei. É impressionante a capacidade que temos de nos adaptar às situações novas. Sinto muito orgulho de não ter mandado embora os funcionários do meu escritório. Estou tentando dar minha contribuição como empresária e cidadã.
Em fevereiro, eu e Luiz Fernando Coutinho, meu marido, trabalhávamos a todo vapor, em pleno carnaval, e foi quando o assunto coronavírus começou a ser difundido. Parecia algo distante, que só acontecia na China, na Itália e em outros continentes. Em março, seguíamos com nosso trabalho quando de repente surge uma nova realidade: a pandemia chegou ao Brasil. O que fazer?
Nesses anos todos, nunca tínhamos lidado com uma situação semelhante no mundo. Como há mais de dez anos eu não tirava férias, fomos obrigados a parar na marra! Tento ver o lado bom da vida, e eu e meu marido fomos para Búzios. Foi a nossa salvação! Eu estava num paraíso, só com poucos amigos e protegida da Covid-19. Às vezes, eu achava que aquele pesadelo não era verdade.
Os primeiros meses se passaram, e tudo continuava igual. Estou em pânico desde que a OMS afirmou, semana passada, que as populações só serão imunizadas no segundo semestre do ano que vem. E até lá, como serão as nossas vidas? E os desempregados? E os moradores de rua que crescem a olhos vistos? E a economia? Sinto falta dos encontros, de ver os amigos, de viajar, de prestigiar os músicos, atores e bailarinos, de sair para jantar. Lamento que parte da população não esteja levando a sério essa doença que já matou mais de 127 mil pessoas só no Brasil (a bomba de Hiroshima matou cerca de 140 mil civis).
Espero que os brasileiros aproveitem essa única oportunidade que a História está nos oferecendo para dar o devido valor à cultura, ao entretenimento e à imprensa — áreas em que atuo com muito orgulho. O que seria de nós, nessa quarentena, sem livro, música, filmes e séries para assistir, e sem a imprensa que nos informa e nos defende das fake news, essa praga dos tempos modernos?
Liège Monteiro é empresária, atua em muitas áreas: organização de eventos, assessoria de imprensa, comunicação, gestão de redes sociais e agenciamento artístico.
Foto: Selmy Yassud