Mudanças: é o que vejo ao meu redor. Dou uma volta no quarteirão, e são cinco caminhões de mudanças (geográfica e interna). Elas estão por todo lado. Eu tinha uma exposição individual marcada e sendo planejada, e o mundo parou. Meu ateliê passou a ser a minha casa, mais precisamente, o meu apartamento no Brooklyn. Sou artista plástica carioca e moro no Brooklyn, desde de 2008, quando vim cursar mestrado na Pratt Institute.
Durante a pandemia, minha exposição acabou sendo recriada de casa. “at Home” é o título da exposição, que abre no dia 12 de setembro, na galeria Pablo’s Birthday. Meu processo criativo envolve o presente e uma sinceridade com o que estou vivendo. O que me envolve dentro do meu trabalho é o processo do fazer. No processo, é que acontecem as descobertas e os aprendizados. As surpresas também estão no ato do fazer.
Meu trabalho vem com base na fotografia e na história da fotografia. Com isso, interesso-me por desconstruir a imagem e a forma clássica de usar a fotografia para dar espaço a novas descobertas e experiências.
O Rio de Janeiro faz parte do meu trabalho, através de imagens que venho fotografando não só na cidade como também na minha essência, na minha identidade. Ser carioca, para mim, fora do Brasil, é saber lidar com situações inesperadas, adaptar incertezas, e ter uma alegria e força de superar coisas que não têm soluções de forma prática.
Ser carioca e ser brasileiro numa terra estrangeira é poder acessar o campo lúdico com mais leveza. O meu trabalho, que parte da fotografia, explora a imaginação e um campo poético. Crio paisagens abstratas a partir de lugares por onde passei e visitei; o Rio é um desses lugares. Frequentemente uso imagens da minha cidade no meu trabalho, mas, com a tinta e outros materiais, vou desconstruído os detalhes das imagens, trazendo textura e dualidades de formas e traços.
Ao longo dos anos, cada vez mais, interesso-me pelo envolvimento do espectador com o que faço. Há alguns anos, entendi que, para mim, mostrar meu trabalho nas galerias e museus não era suficiente. Eu queria mostrar onde as pessoas estavam e onde outros processos criativos estavam acontecendo e poder aprender, expandir meu conhecimento e trazer um novo espectador para as artes plásticas.
O mundo da arte, muitas vezes, é intimista, mas isso não vai ao encontro do que proponho no meu processo — meu processo é convidativo. Eu produzo para o outro, gosto de ouvir o que cada um entende do trabalho. Tudo vale, pois, quando vejo as pessoas comentando, duas coisas estão acontecendo: a pessoa teve espaço para entrar no trabalho e ela usou seu campo imaginário. Isso, para mim, já é um êxito.
Com o tempo, passei a levar meu trabalho para as ruas do Brooklyn, em murais, e a fazer parcerias com outras áreas criativas, como a música e a moda. A moda é uma das formas pelas quais expressamos nossa criatividade e identidade, como queremos ser vistos. Este mês, ao mesmo tempo em que estou abrindo minha individual em Nova Iorque, também estou lançando a minha parceria com a marca Animale no Brasil.
Criamos juntos uma coleção-cápsula que homenageia o Rio, para o verão 2021. Esse trabalho foi especial para mim, pois trabalhei ao lado de profissionais que admiro, como Beth Nabuco e Bel Yunes; conseguimos trazer uma linguagem que faz o encontro da moda e da arte da melhor forma. Soubemos juntar conhecimento e criar algo que é único e individual. Juntar e dar as mãos, neste momento de incertezas, é uma forma de olhar para o outro, de trazer uma mensagem de esperança. O futuro não sabemos, mas temos certeza de que a arte é algo essencial para nós. Escolha a sua arte e aproveite!
Alice Quaresma é artista plástica. Carioca, há 13 anos em NY, tem parcerias com marcas nacionais e internacionais no seu portfólio. Ela abre sua segunda exposição individual em NYC, dia 12 de setembro, na galeria Pablo’s Birthday. Acaba de desenvolver um trabalho com a marca Animale.