Não fazia a mínima ideia de quem é Carlos Alberto Decotelli da Silva até hoje, quando foi nomeado ministro da Educação — anúncio feito pelo próprio presidente via redes sociais, como manda aquele estilo “despachado”, chinelão. Decotelli substitui o destemperado e vexaminoso Abraham Weintraub, de infeliz lembrança — e que o Altíssimo o mantenha bem longe de nós. Oficial da Reserva da Marinha, 67 anos, com bacharelado, mestrado, doutorado e pós-doutorado na UERJ, FGV, Universidade de Rosário (Argentina) e Universidade de Wuppertal (Alemanha). Uau!
O novo ministro homem é uma alta patente ambulante. Também é professor com grande milhagem em sala de aula. Ano passado foi presidente do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação), cargo que deixou no final de 2019, segundo entrevista que acabo de ver na TV, quando houve mudança nos quadros da instituição — não entendi direito porque. Decotelli é negro, o que não me surpreende, uma vez que o presidente procura bancar o ser humano razoável, depois de ter cotovelos e joelhos ralados, semana passada, no campo de futebol de várzea que insiste em transformar seu governo.
O que me surpreende é a escolha de alguém tão técnico, de fala clara — que tom de voz e que dicção tem o homem — com postura que impõe respeito e uma folha corrida de ótimos serviços prestados. De cara destoa dos quadros do governo, sempre aquela coisa mal ajambrada, improvisada, malcriada, sem um pingo de charme (pense na mesa de café da manhã da Primeira Família…).
Ele corre um sério risco: demonstrar competência, apresentar resultados e chamar atenção — positivamente — para sua pasta. Sabemos que o presidente não gosta muito de que lhe roubem os holofotes e, muito menos, de que lhe digam “não” ou mantenham, e levem em frente, um ponto de vista diferente do seu. É o garoto dono da bola que encerra o jogo quando seu time está perdendo. Bom lembrar da ala ideológica, do cordão dos puxa-saco e da turma do “chiqueirinho” enxergando comunismo até em garrafa de Coca-Cola (“Aha, aquele rótulo vermelho nunca nos enganou”) e costuma confundir eficiência de gestão com tentativa de golpe.
Finalmente, não podemos esquecer a influência do Homem de Virgínia – não o seriado vintage de TV, mas aquele outro, o oráculo brega da Primeira Família. Vai que ele não goste da escolha e faça uma live cheia de impropérios e perdigotos desancando o novo ministro até a terceira geração.
O campo é minado, esperemos que Decotelli evite os explosivos e entregue o que dele se espera: coerência, eficiência, decência, transparência e trabalho. Nas palavras dele, está lá pelo “diálogo, gestão e construção”. Não é café pequeno. Apesar de tudo, sempre espero o melhor. Ultimamente está difícil, sabemos. A ver… Enquanto isso na Saúde… Mas essa é outra história. De horror.
Mario Mendes é jornalista, paulistano e ama o Rio. Passou pela Interview (duas vezes), Folha de S. Paulo, Vogue, IstoÉ, Elle, Trip e Veja. Atualmente é freelancer, enquanto espera a pandemia passar.